Três Décadas de 70x7 na RTP
Há 30 anos nascia o programa 70x7 da responsabilidade do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais. O Homem, a sua circunstância e as suas inquietações espirituais, foram trabalhadas ao longo dos anos num produto televisivo querendo ser estímulo à reflexão e descoberta de diferentes prismas de olhar a realidade.
70x7 na Matemática é uma conta de multiplicar, na vida uma charada para muitos, na Bíblia o assunto é concreto e exigente. “Sem reservas, sem fronteiras e sem limites,” assim o catalogava Pe. António Rego, o seu primeiro director. Este programa, transmitido pela RTP2 aos domingos de manhã, traduz a imensidão de situações onde o Homem constrói a sua existência, se depara com dificuldades e conjuga esforços para vencer barreiras.
Luís Marinho, director geral da RTP, realça que “o programa sempre se prendeu por uma abordagem muito ampla e pela novidade”. Também Luís Andrade, antigo realizador da RTP, destaca “a importância que é ter este espaço de televisão aberto e acessível a milhões de pessoas, com uma linguagem directa, num tom diferente do que estamos habituados a que a Igreja se dirija às pessoas. A forma como se fala das coisas é muito importante!”
[[v,d,635,30 anos do programa 70 x 7 ]]“O programa ia para o ar com toda a sua produção e proximidade característica mas muito mais se fazia. O próprio Padre Rego colaborava em muitas das situações com que se deparava e isso era notável no programa. Dali partiam muitas ajudas e tentava-se solucionar problemas,” recorda o antigo realizador do RTP. “É mais importante falar que estão pessoas a morrer de fome, do que ler uma passagem da Bíblia, porque isso é a Bíblia. Trazer os problemas que a Igreja ajuda a resolver, falando abertamente”, continua.
O programa procurava ir para a rua e nele colaboravam nomes como Manuel Villas Boas, actual jornalista da TSF, e Padre António Rego, conhecido por muitos como o “padre da televisão”.
Isabel Stilwell, hoje reconhecida jornalista e directora do jornal diário Destak, iniciou-se no programa 70x7, com apenas 18 anos, conhecendo uma nova forma de ser Igreja. “ 70x7 mostra ainda uma Igreja diferente nas ruas, nos bairros de forma muito desafiante e inovadora,” refere.
Actualmente com outros meios técnicos e caminhando lado a lado com a veloz dimensão tecnológica, 70x7 continua a entrar na casa de todos mostrando a sociedade, novas realidades e gestos de amor que continuam a acontecer. Ao longo dos anos prezou por “mostrar novas janelas ao Mundo”, entrando na clausura dos Mosteiros e Conventos para mostrar a vida diferente, daqueles que se entregaram a um quotidiano radical que o Mundo não compreende. Vidas que não deixam de ser alegres, daqueles que passam os seus dias entre quatro paredes, na contemplação, oração e entrega a Deus em ambientes onde se descobre que a felicidade não está dependente do efémero ou do supérfluo porque muitos regem as suas vidas.
Outra perspectiva deste programa é a fidelização dos espectadores mais atentos. Leovigildo Moacho, ex-presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa, é exemplo disso e confessou mesmo ter gravado vários programas para os utilizar em diversas ocasiões porque “era muito mais interessante ver um documentário sobre o tema do que ir para lá falar”, revela.
Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, considera o 70x7 como “o programa que passa uma mensagem neutra, televisiva e jornalística de transmissão do pensamento humanista da Igreja Católica que chega a todos”. É assim um programa que alia a economia ao trabalho, as tradições que passam de geração em geração e não esquece a cultura que é de todos nós. O Homem sempre guardou sensibilidade pelo transcendente o que mostra a incapacidade de se apagar Deus no íntimo de cada um.
Três décadas depois “é necessário continuar com uma linguagem moderna, rápida e actual para que os jovens entendam e possam ser atraídos esboçando a continuidade”, destaca Luís Andrade. Sem o peso ou sobrecarga da responsabilidade 70x7 continua a chegar a casa dos portugueses, não só dos católicos, mas de todos os que são sensíveis às questões do Homem, da interpelação do transcendente na sociedade onde o apelo dos bens de consumo e poder ainda não calou a questão da dignidade humana.
“O que é bom não perde a sua modernidade e o programa mantém essa qualidade. Continua a transportar o lado doutrinal para a vida das pessoas e hoje é um programa de grande humanidade e isso é que faz falta em televisão”, conclui o director geral da RTP, Luís Marinho.
Uma longa história
[[v,d,625,30 anos do programa 70 X 7 - Testemunho da equipa que o produz]]Paulo Rocha integra a actual equipa que produz o «70 x 7». O editor do programa afirma ser uma honra continuar a história que o Pe. António Rego e Manuel Villas Boas começaram. “Souberam colocar de forma feliz e no mesmo palco a pessoa humana, as suas circunstâncias e a proposta do Cristianismo. É o que queremos continuar a fazer hoje e daqui por diante, sempre com o objectivo de fazer sociedades justas e pacificadoras”.
O jornalista Manuel Villas-Boas embarcou na aventura do 70 x 7 há 30 anos trás. “Na altura entendemos que era necessário falar uma linguagem diferente. Sair da linguagem litúrgica dos templos e ir para a rua falar com as pessoas de uma forma em que fossemos entendidos”. O jornalista lamenta que nos debates “não tivéssemos ido tão longe, mas foram abordadas algumas questões de fronteira”.
“O programa ressentiu também a incapacidade das técnicas que dispúnhamos para ir mais longe, como hoje o 70 x 7 é capaz de ir através de novas tecnologias. Espero que este tempo seja muito longo”, finaliza o jornalista da TSF.
O Pe. António Rego que esteve no início do programa indica ver com alegria a continuação do programa, actualmente com “uma equipa jovem a contar as maravilhas e os problemas da Igreja, as dores e a esperança do nosso mundo”.
O director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja Católica afirma que no «70 x 7» passaram pessoas – crianças, jovens e adultos, idosos, ricos e pobres, crentes, descrentes, cristãos, militantes, indiferentes. No assinalar dos 30 anos deste programa de televisão, o meu desejo é que ele dure tanto como tem durado a palavra de Jesus «Não te digo 7 vezes, mas 70 x 7»”.
António Estanqueiro foi colaborador do programa durante 23 anos e durante 10 anos o seu coordenador geral, facto que “muito me orgulha”. Na produção do programa destaca três aspectos que caracterizaram e continuam a caracterizar este programa. “Não é um programa de catequese mas de divulgação de boas práticas dos movimentos e das comunidades cristãs. Trata-se de um programa católico, da Igreja Católica, mas não um programa fundamentalista”. Acrescenta ainda ser um espaço “de liberdade”.
“A Igreja é perita em humanidade. Na celebração dos 30 anos gostaria de apelar à RTP que, na medida do possível, dê um lugar mais digno a este programa na sua programação nos vários canais.
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