1. A celebração do Dia Mundial do Doente, em África, pode constituir um desafio interessantíssimo para a Nova Evangelização, nas nossas comunidades cristãs.
- O Evangelho deve ser anunciado a todos os homens, mas terá de ser Boa Notícia para todos que se vêem envolvidos nos grandes sofrimentos da humanidade. Daí que, repetindo as palavras do profeta Isaías, Jesus tenha dito, na sinagoga de Nazaré, que “vinha para dar a boa nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a vista aos cegos e a alegria a todos os que sofrem” ( Luc. 4.18).
Por outro lado, ao enviar os discípulos, Jesus disse- lhes para irem dar a paz, curando os enfermos e expulsando os espíritos maus. (Cf. Luc.10.5/4).
A Pastoral da Saúde é, então evangelizadora, dando boas notícias, libertando da maldade, curando os enfermos e dando a paz.
- A nova evangelização, a evangelização do novo milénio supõe, no dizer de João Paulo II, um novo ardor, novos métodos e novas expressões. O novo ardor exige uma paixão redobrada no anuncio de Jesus ressuscitado. Os novos métodos supõem respostas aos problemas dos homens e mulheres de hoje. Nem os lugares de evangelização, nem a linguagem a utilizar ou as metas a atingir podem ser as antigas. Sem dúvida que os lugares de evangelização deverão ser aqueles em que vivem os nossos contemporâneos, com as suas alegrias e esperanças, com as suas hesitações e dificuldades, com os seus problemas e
interrogações. A ameaça de doenças que podem ser evitadas é um lugar de evangelização e a linguagem de cuidados primários eficazes oferece a garantia da libertação perante o mal. Daí que a prevenção, a educação para a saúde, seja forma concreta de nova evangelização. Finalmente, as expressões do Evangelho passa pela partilha de preocupações e pela descoberta de respostas eficazes.
Educar para a saúde será também evangelizar.
- Os cristãos têm de ser sensíveis aos problemas dos outros e propor-lhes formas de vida que impeçam as suas crises ou os ajudem a vencê- las. Os cristãos são no mundo sinais de esperança, anunciadores de boas notícias.
Problemas das comunidades humanas
2. Há muitos problemas na comunidade humana de que os cristãos fazem parte, problemas que podem ser evitados, através de um processo educativo eficaz. Basta pensar na falta de higiene das crianças, dos homens e mulheres, nos bairros mais pobres ou nas povoações mais afastadas. Daí resultam doenças que podiam ser evitadas se houvesse quem ensinasse às pessoas os cuidados a ter. Evangelizar será então também:
- conseguir que as pessoas não caiam em consumos que vão prejudicar a sua saúde física e mental; alertar para as consequências do consumo do álcool e das drogas; indicar com clareza os malefícios do tabaco e dos medicamentos tomados em excesso; prevenir, através de uma informação suficiente que ajude as pessoas a não se deixarem “agarrar”, a não perder a liberdade e a não cair em dependências ruinosas;.
- Ensinar sobretudo os jovens a viver uma afectividade e uma sexualidade equilibradas; o risco dos comportamentos sexuais sem projecto é tal que muita gente destrói completamente a sua vida; toda a gente sabe que a Sida acontece muitas vezes porque as pessoas não aprenderam a orientar a sua vida sexual; e já não se fala na gravidez indesejada de tantos adolescentes e na tentação de encontrar no aborto a solução para as surpresas nascidas de comportamentos de risco; a urgência de uma educação para a responsabilidade, neste campo impõese cada vez mais.
- ajudar as pessoas a dosear a sua actividade, para não cair em situações de “stresse”, é outro campo em que é necessário investir; hoje há uma superactividade que descontrola completamente a vida; a tentação de acumular tempos de trabalho ou de desenvolver a actividade profissional numa competição desesperada, dá origem a depressões e desequilíbrios mentais, altamente desorientadores da vida; é necessário, por um processo educativo, levar a ser fiel ao sentido da vida.
Fomentar comportamentos saudáveis
3. O que se faz nas comunidades paroquiais para prevenir as doenças e orientar
para comportamentos saudáveis?
Esta actividade de educação para a saúde constitui um verdadeiro desfio para as
comunidades cristãs. No passado, a melhor forma de educar as crianças e os jovens na paróquia era através da ocupação de tempo, com jogos, passeios, conferências, retiros, reuniões. Hoje os mais novos têm tudo isso noutros lugares e recusam a “moral” pregada nas Igrejas. Então é preciso descobrir outros modelos de ajuda. A educação – prevenção – para – a - melhor – saúde é o caminho indispensável. De uma forma organizada, perante problemas concretos, utilizando as novas tecnologias na informação e a melhor relação pessoal no apoio, as comunidades cristãs podem educar para a saúde. Não se deve ter medo de enfrentar algumas das situações mais delicadas e difíceis. Dão-se exemplos:
- Fazer a prevenção da Sida, com uma informação corajosa e, ao mesmo tempo, com o convite a relações estáveis, com projecto de vida construído ao longo de vários anos; a orientação da vida sexual, numa “castidade” assumida é, sem dúvida, a melhor forma de prevenção; mas isso exige uma educação responsável da afectividade e da sexualidade.
- Conseguir programas de prevenção da toxicodependência, sabendo que não basta a informação sobre os malefícios do álcool ou da droga, mas se torna necessário apontar os valores indispensáveis a uma vida saudável, vivida na liberdade plena; é que a droga tira a liberdade, destroi a saúde e compromete os projectos de futuro.
- Criar mecanismos de uma sã convivência, para contrariar os ambientes altamente negativos em que vivem tantas das nossas crianças e jovens com tempos de lazer que desequilibram completamente a vida, com noitadas sucessivas e ambientes fechados, quase irrespiráveis. Tudo isto e muitas outras coisas podem nascer da actividade pastoral das
comunidades cristãs que, assim, respondem a problemas concretos vividos pelos nossos jovens e por outros membros dos grupos paroquiais. A educação para a saúde é uma forma de evangelizar, porque ajuda, na prática, a ser cristão, mesmo nos situações mais difíceis vividas pelas pessoas e em que a cultura actual é mais permissiva.
4. Os Núcleos Paroquiais da Pastoral da Saúde têm então, na educação para a saúde, na prevenção das doenças e na orientação dos comportamentos, uma missão extraordinária. Podem ensaiar-se inúmeras iniciativas. À laia de exemplo, podem referir-se alguns instrumentos de trabalho interessantíssimos. Numa diocese, um grupo de médicos, enfermeiros e psicólogos, com educadores, preocuparam-se por fazer educação das pessoas para um estilo saudável de vida. Foi assim que nasceram as histórias de Tchim, livros da autoria de uma médica Graça Gonçalves, que dedica toda a sua vida a este dinamismo de prevenção e que foram editados pela Bertrand Editora.