Nacional

Um longo serviço ao ensino da teologia

Voz Portucalense
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D. António Marto e Frei Joaquim Monteiro

A Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Porto reúne-se esta quinta-feira, 17 de Junho, para uma congratulação simples pelo longo trabalho de dois dos seus membros mais prestigiados: D. António Augusto dos Santos Marto e Frei Joaquim Monteiro. O primeiro vai tomar posse como Bispo de Viseu e deixa a vida académica; o segundo atingiu a idade da jubilação. Ambos merecem uma palavra de gratidão pelo muito que deram a muitas gerações de alunos. A glória de Deus é o homem vivente Esta palavra de Ireneu de Lião foi comentada algumas vezes, entre suor e esforço, nos exames rigorosos a que D. António Marto submetia os seus alunos debutantes. Mas ela como que resume o longo magistério teológico do professor que o foi por cerca de trinta anos. Ocupando-se sobretudo das disciplinas de antropologia teológica, que inclui a escatologia, e de sacramentos, o apreciado professor sempre se esforçou por apresentar uma perspectiva da fé que eleva, que cura e que salva o homem que Deus quer um vivente na plenitude das suas dimensões. O pensamento de D. António Marto merece um estudo e esperamos que o tenha no futuro. Se quiséssemos ter uma rápida ideia daquilo que professou ao longo do seu ensino, talvez pudéssemos resumi-lo em três ideias: rigor metodológico, personalismo integrador, vertente pastoral. O primeiro decorre da sua formação romana que tem a preocupação de ter em conta a totalidade das vertentes de um assunto, não dando os temas por concluídos antes do tempo, nem cedendo a qualquer miopia, por muito atraente que seja na exposição. O tema do personalismo é-lhe incutido pelo próprio carácter da antropologia teológica: uma iluminação do mistério da grandeza e dignidade do homem, desde a perspectiva divina, na integralidade das suas dimensões, como ser criado e redimido, um ser livre que, no entanto, necessita de ver resgatada a sua liberdade; um ser cuja verdade é ser destinado à graça, mas que necessita de ser despertado pelo encontro da fé pessoal. A vertente pastoral do pensamento de D. António Marto está patente, entre outras coisas, na publicação de um catecismo de ampla divulgação, que nasceu das catequeses que o professor fazia pessoalmente, em diversas paróquias, com infinita paciência com a lentidão dos formandos. A passagem de D. António Marto pelo Porto está ligada ao então Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, ao Centro de Cultura Católica e também ao Seminário Maior do Porto. Neste último, teve papel central em consolidar uma tradição duradoura de convivência de alunos de várias dioceses, valor que é um exemplo de comunhão eclesial e de integração dos alunos numa ampla perspectiva de presbitério. Liberdade e criatividade franciscana Frei Joaquim Monteiro consagrou a quase totalidade da sua vida ao estudo e ao ensino da teologia. Gerações e gerações de alunos que ajudou a formar, e que carinhosamente o tratam por “Mestre”, testemunham a sua liberdade e criatividade no ensino e no tratamento dos assuntos. Ao completar setenta anos, Frei Joaquim merece a jubilação pelo seu labor incansável de formar na liberdade e para a liberdade. Nisso, assimilou profundamento o espírito de Francisco de Assis, espírito que transparece em toda a sua vida. O melhor que se pode dizer de alguém que ensina teologia é que é um crente. E isso pode dizer de Frei Joaquim. E por isso, todas as escolas de teologia que houve no Porto e a que esteve ligado lhe estão gratas por várias dezenas de anos de labor. O trabalho de Frei Joaquim reflecte o seu franciscanismo noutros aspectos, como sejam o esforço de olhar incessantemente para as fontes bíblicas da fé, à procura de Jesus, na simplicidade da sua pessoa e do seu programa, para lá de séculos e séculos de uma tradição, discutível em muitos aspectos. Com essa frescura originária da fé, procurou Frei Joaquim confrontar os seus alunos. Muitos deles agradecem-lhe essa ligação entre teologia e espiritualidade e penitenciam-se de não ter sido capazes de compreender e viver o programa de liberdade, mesmo quanto à forma de prestação de contas de avaliação (exames), que promovia de forma tão responsabilizante. A integração de Frei Joaquim no corpo de professores na Faculdade de Teologia e nas escolas que a precederam, no Porto, mostra uma opção pela pluralidade de proveniências de docentes e estudantes, que é uma grande riqueza destas escolas. Isso enriquece muito uns e outros. Na hora de ver jubilar-se Frei Joaquim, é justa a gratidão pelo património que nos deixa, e é devida a expectativa de ver continuada a tradição de um contributo de franciscanismo na Faculdade de Teologia. Jorge Teixeira da Cunha, “Voz Portucalense”


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