Nacional

Um retrato sociológico-religioso da Diocese do Porto

Voz Portucalense
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A diocese do Porto, através da Fundação Voz Portucalense, acaba de divulgar os resultados do recenseamento da prática religiosa, as duas últimas vezes realizadas em 1991 e em 2001. São os resultados desta última que agora se divulgam no volume Prática Dominical. A edição desta divulgação do recenseamento não é apenas um registo de números, cujo interesse é manifesto e salientado pelas palavras de “apresentação” do Bispo da Diocese (“importa que os resultados sejam lidos com objectividade”), mas vem acompanhado de um estudo de fundo elaborada com carácter sociológico e científico por António Teixeira Fernandes, sacerdote, juiz do Tribunal eclesiástico e catedrático de sociologia na Universidade do Porto. É nesta última condição que elabora um estudo aprofundado, para que “as explicações sejam fornecidas com critérios científicos, com rigor e com verdade” – no dizer da D. Armindo Lopes Coelho. É certamente com critérios científicos que Teixeira Fernandes se debruça sobre os dados do recenseamento, enquadrando-os numa visão alargada da sociedade e dos dinamismos sociais e culturais, particularmente no domínio do fenómeno religioso: sentido de comunidade, mobilidades, dinamismos religiosos e perspectivas pastorais em função da verificação dos dados. Assim, em seis capítulos, analisa sucessivamente a “Secularização e Prática Religiosa”, as “Dinâmicas Demográficas e Prática Religiosa”, a “Composição das Assembleias Dominicais”, os “Níveis de participação na Comunhão”, a Mobilidade Geográfica e Estruturas Pastorais” e “Modos de Vida e Expressões do Sagrado”, a que apões uma conclusão, antes de apresentar os dados completos do recenseamento, por paróquias e lugares de culto na diocese do Porto. Esta simples enumeração testemunha a preocupação do rigor analítico do trabalho de A. Teixeira Fernandes: não se trata apenas de dados, mas da sua leitura no quadro alargado das dinâmicas sociais e culturais, utilizando “recursos disponíveis elaborados pela sociologia nos últimos tempos”. À interpretação dos dados contrapões o autor algumas perspectivas de formas pastorais para o futuro: “Há que se interrogar sobre a natureza das paróquias se sobre as funções que, hoje em dia, elas possam ser chamadas a desempenhar”, sugerindo, por exemplo, “a passagem de uma acção centrada na paróquia a uma outra voltada essencialmente para a região”, dada a “enorme mobilidade geográfica na procura das igrejas para o cumprimento da obrigação dominical”, resultante “da própria configuração das sociedades”. Subjaz à análise do autor um conjunto de múltiplas reflexões apresentadas em encontros, reflexões que foram aprofundadas e sistematizadas. A diocese e os seus responsáveis (Bispos, sacerdotes, religiosos, leigos e movimentos cristãos e apostólicos) passam a dispor de um instrumento de análise e de trabalho que deve ser saudado como um contributo de elevada valia na compreensão do fenómeno da prática religiosa e da sua relação com as convicções e vivências da população. Certamente que a leitura desta análise dos dados pode fornecer linhas de actuação para todos.


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