Nacional

Uma visão invisual da guerra

Luís Filipe Santos
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Uma visão invisual da guerra “Destruição, coisas que se cruzam nos ares, pessoas a chorar e muitas delas mutiladas, corpos mortos no chão e muito calor vindo dos incêndios” no fundo “vejo, sem ver, um cenário bastante negro” – foi assim que Ilda Nunes, uma invisual desde tenra idade e participante no Congresso «Rumo a uma nova cultura da deficiência», descreveu a guerra entre o Iraque e os Aliados. E adianta: “tenho visões diferentes das suas que são difíceis de imaginar”. Esta invisual queixa-se também à Agência ECCLESIA que enfrenta “muitas dificuldades nas deslocações”, não naquelas do dia à dia, mas “quando tenho que caminhar em novos trajectos”. Para alterar esta situação, Ilda Nunes apela “ao exercício da cidadania” e continua: “não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti”. A base de tudo “está neste princípio” porque “não há legislação que altere as coisas”. Na companhia da sua cadela guia, que a acompanha há três meses, Ilda Nunes salienta que veio de Coimbra em autocarro, já andou de taxi e comboio em Lisboa, e não se sente “inferior aos outros” apesar de já ter sentido “na pele a discriminação”. E refere que “por ser deficiente invisual” teve dificuldade de exercer a sua área profissional: “sou assistente social”. Um dia, os judeus levaram um cego à presença de Jesus e perguntaram-lhe: «Este nasceu cego, quem pecou, ele ou os seus pais?» - E Jesus respondeu: Nem ele nem os seus pais”. Por isso, apesar desta incapacidade, Ilda Nunes não entende “a sua deficiência” como um castigo de Deus. As pessoas “é que estão muito presas aos sentidos” e então “imaginam-se elas mesmas sem o sentido da visão”. Uma pessoa cega “não fecha os olhos e fica perdida” nem sequer “vive na escuridão”.


Pessoa com deficiência