Nacional

Unidade Eclesial também para o trabalho social

D. Armindo Lopes Coelho
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Na Missa Crismal, D. Armindo Lopes Coelho alertou para estratégias da sociedade "para nos ferir, dispersar, dispensar, diminuir e até substituir". Sobre a nova Concordata, rejeitou medos ou apreensões"

Homilia do Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, na Missa Crismal Sé Catedral do Porto, 8 de Abril de 2004 Continuam a cumprir-se as palavras da Escritura que acabamos de ouvir. O Senhor ungiu pelo Espírito o Filho que nos enviou. E o Ungido do Senhor, Cristo, reconheceu-se e identificou-se na sinagoga de Nazaré como Aquele que foi ungido para ser enviado. Assim aconteceu e assim percebemos que a unção se destinou e destina à missão, e que também a missão descrita no profeta Isaías e decalcada em S. Lucas supõe ou exige unção prévia. A Encarnação do Filho de Deus é um modo de dizer Messias, e a messianidade destina-se à missão do próprio Messias e de quantos participam, em diversidade de graus ou de espécie, nas funções messiânicas ou salvíficas de Jesus Cristo, do Cristo Salvador. O profeta Isaías antecipa expressões como “Sacerdotes do Senhor” e “ministros do nosso Deus”, e o Apocalipse fala de “Jesus Cristo, Testemunha fiel” para d’Ele dizer: “Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amen” (Apoc. 1, 6-7). O progresso da Teologia, testado na evolução do tempo e na consciência da Igreja, permite-nos saber e dizer que “o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas por grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo”(LG, 10). E neste progresso , consciência e prática da Igreja estão suficientemente determinadas as áreas de competência da hierarquia e do laicado, embora nem sempre vingue o equilíbrio e a harmonia entre competência teórica e prática concreta. E até se conhecem casos de queixas mútuas e de reivindicações a exigir satisfação. Vale a pena lembrar quanto diz o decreto conciliar sobre o ministério e vida dos sacerdotes: “O Senhor Jesus, “a quem o Pai santificou e enviou ao mundo”(Jo. 10, 36) tornou participante todo o seu Corpo Místico da unção do Espirito com que Ele mesmo tinha sido ungido: n’Ele, com efeito, todos os fiéis se tornam sacerdócio santo e real, oferecem vítimas a Deus por meio de Jesus Cristo, e anunciam as virtudes d’Aquele que os chamou das trevas para a sua luz admirável. Não há portanto nenhum membro que não tenha parte na missão de todo o Corpo” (P.O.nº2). É certo porém que os sacerdotes pelo Sacramento da Ordem que lhes dá capacidade para actuar “in personna Christi”, não podem situar-se ou ser colocados em nível de igualdade ministerial com os leigos. O mesmo decreto conciliar diz expressamente que os sacerdotes devem estar à frente, isto é, praeesse, presidir, ao mesmo tempo que devem trabalhar na obra comum com os leigos, reconhecer e promover sinceramente a dignidade e participação própria dos leigos na missão da Igreja, dispostos a ouvir os leigos, tendo fraternalmente em conta os seus desejos, reconhecer a sua experiência e competência, para que juntamente com eles saibam reconhecer os sinais dos tempos(cf. P.O. nº 9). Esta estrutura da Igreja é indispensável para a eficácia da sua missão. Não é sem razão que o decreto “Christus Dominus” (sobre o múnus pastoral dos Bispos) assim define a Diocese: “A porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo, coadjuvado pelo seu presbitério (cum cooperatione presbyterii), de tal modo que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espirito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica” (Ch. Dom. nº 11). Pode dizer-se que toda a doutrina pós-conciliar (portanto a partir de 1965) não fala da missão e actividade da Igreja sem um apelo à convergência, unidade e harmonia de Bispo, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, consagrados, e leigos, cada um ou cada grupo segundo a sua capacidade sacramental, intelectual, social e de harmonia com os carismas reconhecidos e aprovados pela autoridade eclesiástica. A Exortação Apostólica pós-sinodal “Pastores gregis” adverte: “ O Bispo deve ter em consideração a importância do apostolado laical associado, seja o de mais antiga tradição, seja o de novos movimentos eclesiais. Todas estas realidades agregativas enriquecem a Igreja, mas têm contínua necessidade do serviço de discernimento que é próprio do Bispo, cuja missão pastoral comporta favorecer a complementaridade entre movimentos de inspiração diversificada, vigiando sobre o seu desenvolvimento, sobre a formação teológica e espiritual dos seus animadores, sobre o inserimento das novas realidades na comunidade diocesana e nas paróquias, das quais não se deve separar”(nº 51). Certamente que todos entendemos o sentido, a razão e necessidade desta doutrina sobre a Igreja, a sua missão e os seus agentes pastorais. E também percebeis por que estou a recordar estes princípios doutrinais que já conheceis. Nota-se que há na nossa sociedade uma tendência ou estratégia para nos ferir, dispersar, dispensar, diminuir e até substituir. Aparentemente são contraditórias ou irrelevantes estas tendências e atitudes. Mas o que parece mais contraditório ou paradoxal , e é mais perigoso, é uma crescente ignorância e um desinteresse pela Igreja, e simultaneamente a vontade manifesta de ocupar o lugar da Igreja, não propriamente para evangelizar ou santificar mas para orientar, comandar e presidir àquilo que é a actividade social e até administração das iniciativas patrimoniais da Igreja. Sabemos que a revisão da Concordata está a chegar à aprovação e assinatura, mas não faltam os que tratam dos assuntos da Igreja e das suas relações com a sociedade civil à base de princípios e resoluções que advogam por conta própria e vão já antecipadamente pondo em prática. A revisão da Concordata de 1940 é um acontecimento normal de Direito Internacional. Por ele nos temos regulado, e assim continuaremos de harmonia com o que for estabelecido e que a seu tempo estudaremos para serena aplicação . Para longe de nós qualquer espécie de medo ou de apreensão. Estamos convencidos e esperançados que teremos condições novas para continuarmos fiéis à Igreja e servidores mais eficientes do povo que nos está confiado. Entretanto, temos diante de nós, vindo de dentro de nós, um programa pastoral com prioridades tão conhecidas que não precisam de ser repetidas. Desejava neste momento informar que estamos envolvidos com obras em Ermesinde, porque ali centramos simbolicamente a causa da Juventude e da pastoral vocacional. Sentimos urgência de acudir ao Seminário Maior para que os nossos Seminaristas teólogos tenham condições decentes de habitabilidade. Continua em bom ritmo a construção da Casa Sacerdotal, que esperamos inaugurar no início de 2005. Para que se cumpra mais uma aspiração justa do Clero e da Diocese. Mas nesta Missa Crismal desejaria principalmente dizer uma palavra de alerta urgente sobre as prioridades pastorais subordinadas ao título e temática da Evangelização . Não temos dia marcado para iniciar nem uma duração prevista para executar. Há prioridades já em acção. Há generosidades que pedem ou esperam colaboração. Não pensamos criar novas estruturas ou comissões ou secretariados. Contamos com as estruturas pertinentes que já existem. E confiamos nos seus dirigentes, responsáveis e colaboradores. Não estamos em tempo de campanha ou de preparação. Estamos no tempo de realizar as acções necessárias nas prioridades que foram aprovadas e anunciadas. Na carta que dirigiu aos Sacerdotes para este dia, o Santo Padre diz: “Imagino-vos reunidos nas catedrais das vossas dioceses, em volta dos respectivos Ordinários, para renovar as promessas sacerdotais.” E falando da “consagração dos Santos Óleos, nomeadamente o do Crisma, o Papa diz que esta celebração “evidencia a imagem da Igreja, povo sacerdotal santificado pelos sacramentos e enviado a difundir no mundo o suave aroma de Cristo Salvador”(nº 1). Tenhamos consciência de que somos este povo sacerdotal santificado e enviado... para anunciar a boa nova... proclamar a redenção... restituir a liberdade ... proclamar o ano da graça... e o tempo da salvação, como Igreja de Cristo na força e unidade do Espirito. Sé Catedral do Porto, Missa Crismal, 8 de Abril de 2004 D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto


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