Universidade: Crise, burocracia e tecnologia desafiam professores cristãos
Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior promoveu encontro em Fátima com a relação entre docente e aluno como pano de fundo
Fátima, Santarém, 20 out 2012 (Ecclesia) – O Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior (SNPES), da Igreja Católica, reuniu este sábado em Fátima docentes e investigadores de todo o país para debaterem desafios ligados à realidade atual do mundo académico.
Em declarações concedidas à ECCLESIA, o coordenador daquele organismo, Jorge Bernardino, realçou que “neste período difícil que o país atravessa”, uma das prioridades “fundamentais” da atuação dos “docentes cristãos” deve ser a “transmissão de valores”.
O professor do Instituto Politécnico de Coimbra destacou a importância da solidariedade, numa altura em que “são cada vez mais os alunos que pedem apoio”, por não terem condições económicas para cumprirem com o pagamento de propinas nem sequer para darem resposta a necessidades básicas.
Para procurar atender às dificuldades dos jovens, o SNPES criou diversos “fundos solidários", fomentando a entreajuda no meio da comunidade estudantil.
“Essa é uma questão importante, mais patente entre os cristãos, todos têm de fazer alguns sacrifícios e remar no mesmo sentido”, salientou o docente.
Durante o encontro no auditório da Domus Carmeli, Casa dos Carmelitas, ficou também clara a necessidade de humanizar um sistema de ensino onde, muitas vezes, a proximidade entre professor e aluno é ameaçada por um conjunto de obrigações burocráticas que não têm propriamente a ver com a sala de aula.
Liliana Pimentel, da equipa do SNPES, referiu que hoje há uma “grande pressão sobre os professores para a formação de currículos profissionais e académicos, para a publicação de artigos, porque são essas as métricas pelas quais eles são avaliados”.
No meio de todo esse trabalho, nem sempre há tempo para a construção daquilo que a docente chamou de “currículo escondido”, a partir da relação com os mais novos.
“Os professores são educadores e formadores das personalidades dos jovens, que vão ser os próximos gestores, políticos e tudo o mais”, salientou.
De acordo com João Paiva, docente da Universidade do Porto, a atenção à proximidade com os alunos começa por coisas simples, como “saber o nome” de cada um deles.
“Em teoria é fundamental mas nem sempre é possível. Há depois outro tipo de atitudes, de abertura, de capacidade de escutar, em que se pode fazer a diferença”, acrescentou.
O mundo tecnológico de hoje também representa um desafio aos docentes e o equilíbrio é a meta mais procurada.
“A tendência dos alunos é abusarem na dose da tecnologia, o que tem consequências, no sentido da capacidade de espera, de diálogo, de humanização. Por outro lado, também oferece potencialidades para a relação entre alunos e professores”, concluiu João Paiva.
PTE/JCP
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