Nacional

Viagem ao outro lado da Igreja

Nuno Rosário Fernandes
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Padre da diocese de Braga testemunha experiência missionária

A experiência de missão «ad-gentes» ou seja, num país que não é o nosso, é quase sempre associada, ou a leigos missionários voluntários ou a religiosos consagrados, sacerdotes, irmãos e irmãs, cuja formação prevê a saída em missão, normalmente em países onde se denotam maiores dificuldades e onde a semente do cristianismo ainda está a ser lançada ou em fase de crescimento. Porém, há outros testemunhos que encontramos no meio de dioceses portuguesas onde, normalmente o tema missão é visto numa outra perspectiva, aquela da «missão cá dentro». O Pe. João Torres é sacerdote da diocese de Braga e acaba de chegar de uma experiência de missão ao longo de dois anos no Norte de Moçambique. Ordenado em Julho de 2003, este sacerdote diocesano propôs-se, logo após a ordenação sacerdotal e com a ajuda da Sociedade Missionária da Boa Nova, a fazer uma experiência que, declarou à Agência ECCLESIA, é “importante para que o padre diocesano possa abrir a sua mente a uma Igreja maiorâ€. Para o Pe. João, o facto de ter partido em missão “ajudou a perceber que a Igreja não é só a nossa diocese mas é muito maiorâ€, afirmou. De Novembro de 2003 a Novembro de 2005 o Pe. João Miguel Torres, de 29 anos, confrontou-se com uma realidade eclesial que considera ser muito diferente da portuguesa. “Estava num ambiente onde havia muitos muçulmanos – disse o Pe. João – e o diálogo inter-religioso ajudou-me a perceber que o cristão não o é por aquilo que diz mas por aquilo que fazâ€, salientou. “Hoje em dia, em Portugal, há muita gente que se diz cristã por tradição, mas que não assume verdadeiramente a sua postura perante a sociedade. O cristão é alguém que tem direitos mas, também tem deveres, e acho que era importante que isso fosse assumido. Não basta dizer eu sou católico, porque depois até se diz «católico não praticante». Assim nega-se aquilo que se é. Em Moçambique tive contacto com pessoas que eram cristãs, verdadeiramente. Aqueles que porventura abandonassem deixariam de ser cristãos. E lá não existe esta expressão «eu sou cristão não praticante»â€, acentuou o Pe. João Torres. Diferenças apontadas por este sacerdote diocesano que, se manifestam inclusive na própria postura do padre que se encontra em missão. “O padre ali é alguém que está em contacto com os que são cristãos e com os que não o são. É alguém que está mais para ouvir do que para fazer. O padre não está ali para gerir centros sociais ou lares de terceira idade – afirmou – mas para visitar as pessoas, ouvir as pessoas e os seus problemasâ€. No lugar onde esteve nestes últimos dois anos, no Norte de Moçambique, o Pe. João Torres foi superior de uma missão composta por 73 comunidades, distribuídas numa área territorial maior que a diocese de Braga. Ali visitou as comunidades, celebrou com elas, “algumas que nunca tinham sido visitada por um padreâ€, disse. Contas feitas destes dois anos, disse ter presidido a cerca de 2500 baptismos, 500 matrimónios, chegando inclusive, num único dia a presidir a 40 casamentos. Teve uma participação também activa na área social, visitou hospitais, deu consultas de malária, conjuntivite, febres, e distribuiu ainda medicamentos. Mas como seria de esperar, neste ambiente de missão também encontrou dificuldades. “A missão não dava dinheiro para o nosso sustento, por isso vivíamos de ajudas. Porque algumas comunidades não tinham acessos, nós tínhamos de nos deslocar a pé, e quando íamos para o mato, durante três quatro dias, a alimentação era fraca. Algumas vezes, até, fiquei doenteâ€, contou o Pe. João Torres. Hoje, regressado de Moçambique, espera-o a colocação numa paróquia da diocese de Braga mas, depois desta experiência, diz-se mudado. “Agora, olho para um cristão de maneira diferente, certamente serei mais tolerante, mas também mais exigenteâ€, frisou.


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