Nacional

Visão Cultural pobre, horizontes de morte

D. António Marcelino
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"Nunca fui capaz de perceber na defesa do direito a destruir a vida de outrem" - realça D. António Marcelino

Quando se fala de vida e de defesa da vida, quando se ouvem notícias de descoberta de novos medicamentos ou de novas técnicas que permitem solucionar doenças graves, quando surgem pequenos ou grandes heróis que arriscaram a vida por alguém que corria verdadeiro risco de a perder, quando nasce uma criança e se vê no rosto dos pais, dos avós e de algum irmãozito, uma alegria esfusiante, quando se chora e se lamenta a morte de alguém que comunicava felicidade e paz ou era o suporte de uma família ou de uma instituição, todos podemos pensar que, na opinião comum e alargada, a vida tem muito valor, a vida é o maior valor. Percebemos, então, porque é que no coração das pessoas vivas está enraizado o dever de apreciar, defender e promover o dom da vida e de dizer, aos quatro ventos, que ninguém tem direito a matar. Nunca fui capaz de perceber na defesa do direito a destruir a vida de outrem, qualquer sentido de inteligência ou de progresso, porque não consigo ver aí qualquer sentido de humanidade. O que se poderá esperar de quem, seja a que pretexto for, vê com olhos redutores, o maior de todos os valores, a vida, de tal modo grande, que sem ela, nada tem sentido nem futuro? O primeiro problema a enfrentar pela nova Assembleia da República foi, na militância de alguns deputados, levar à frente a irresponsabilidade de abrir portas à destruição livre de nascituros. Discutem-se as semanas de vida para poder matar, por pouco tempo, porque, em etapas posteriores, o tempo passa a questão secundária. Fora uma promessa eleitoral que rendeu votos, tem de se cumprir. Quem ainda não tem convicções ou só tem interesses a defender, alinhou de imediato. O grande problema nacional é o referendo ou uma lei mais permissiva. Estamos informados. Um deputado novo, logo no primeiro dia de Assembleia, saiu-se com esta: “ Por formação, sou visceralmente contra o aborto, mas considerando os fenómenos da modernidade penso que, pelo menos até à maioridade, as jovens devem poder prevaricar…Até aos 18 anos não têm maturidade para assumir a responsabilidade de uma gravidez…Sim, até aos 18 anos, temos de repensar a lei do aborto…Se já é adulta, tem que ser responsável por isso” (DN 11.3.2005) Assim mesmo. Microfone à frente e aí vem a sentença. São os novos legisladores a ajudar o país a ir para a frente… A obsessão por casos individuais, a dificuldade em ver o que é essencial para o defender a todo o custo, o pouco discernimento em relação às necessidades urgentes do país e das pessoas, a subordinação do bem comum a interesses ideológicos, tudo isto tem de ser denunciado. A sociedade democrática dá direito a fazê-lo. O bom senso e o compromisso de implementar soluções alternativas, obrigam a fazê-lo. São sempre os defensores da vida que se empenham, de facto, em iniciativas a favor das mães em dificuldade e das crianças não amadas. Quem grita na rua, normalmente não suja as mãos com respostas humanizada. Ou se trata de um problema cultural, como tal considerado, ou já nada tem valor. Quando os horizontes são de morte, a vista é sempre curta e incapaz de ir além do imediato, de ir ao fundo dos problemas. Quem negar que há problemas graves que exigem soluções válidas e sérias, anda fora da vida. Mas, para quem defende soluções de morte para problemas da vida, ao contrário do que se pretende fazer ver, as pessoas passaram a ser coisas. Expropiam – se quando são adultas, destroem-se quando são indefesas.


Aborto