Nacional

Viver a Semana Santa na Igreja e na sociedade

Voz Portucalense
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De 20 a 27 de Março, mais cedo do que é habitual, a tradição cristã celebra a Semana Santa, ou Semana Maior para todo o povo cristão. Especialmente é digno de registo o chamado Tríduo Pascal que engloba os três grandes mistérios: o da Eucaristia (na Quinta-feira Santa), o da Paixão (na Sexta-feira Santa) e o da Ressurreição, na Solene Vigília Pascal, que se prolonga depois na celebração do Domingo de Páscoa e nos Domingos seguintes). Importa insistir no apelo às comunidades cristãs para a revitalização destas celebrações, o que se tem vindo a verificar, através de iniciativas diversas, como as Conferências Quaresmais, a realização em todas as paróquias da Via Sacra (em muitos casos em lugares públicos, como ruas e praças), as chamadas Procissões dos Passos e as Visitas Pascais). Acresce ainda, nos últimos tempos, a promoção de numerosos concertos de carácter espiritual, com as diversas modalidades da Música Sacra (coros, orquestras, solistas vocais e instrumentais, canto gregoriano, concertos de órgão de tubos e concertos coral-sinfónicos), com obras tanto consagradas como o Messias de Haendel, o Requiem de Mozart, as Cantatas de Bach ou Missas de vários autores, motetes de muitos autores, como de compositores contemporâneos que se continuam a exprimir por esta forma de arte e manifestação da criatividade do espírito humano. Esta visível reabilitação do sentido espiritual e salvífico da Semana Santa, que parece ganhar maior presença na comunicação Social e adquirir uma visibilidade mediática que não possuía em anos transactos, é sublinhada pelo acompanhamento diário da doença do Papa João Paulo II, ela própria símbolo do sentido cristão da enfermidade humana: o seu significado e valor redentor. Para além das opiniões expressas de que João Paulo II devia resignar (também no tempo de Cristo não faltavam fariseus que, mesmo perante milagres, definiam como ele devia agir: “então este, que deu a vista ao cego, não podia impedir que o seu amigo não morerre?†- Jo, 11), a sociedade e a comunicação social começam a entender que a presença do Papa, apesar da sua fragilidade, constitui um sinal do princípio da defesa da vida: vivê-la com intensidade até ao fim. Mesmo para os não crentes, a afirmação deste facto sociológico da Semana Santa mais vivida pelos cristãos (de qualquer Igreja) deve ser motivo de respeito e ocasião de descoberta da presença do espírito na realidade social. Como fazia, por exemplo, Miguel Torga nos numerosos e emblemáticos escritos que dedicou a este período. Para os crentes, Cristo, nossa Páscoa, foi imolado; para os não crentes, o Homem, sujeito à morte, é paradigma da condição humana, cujas dores importa superar.


Quaresma