V Encontro Europeu de Estudantes de Teologia da Ordem dos Carmelitas Descalços
«Acredito nas vocações do espaço europeu!». A convicção é do padre Carlos Gonçalves, OCD, conselheiro nacional da Ordem dos Carmelitas Descalços e um dos organizadores do V Encontro Europeu de Estudantes de Teologia da Ordem.
O encontro realiza-se no Convento do Carmo, em Viana do Castelo, entre os dias 29 de Agosto e 5 de Setembro. A organização do evento serviu de mote para abordar a situação das vocações carmelitas.
Para o padre Carlos Gonçalves, o decréscimo de candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa «é uma oportunidade para um grande discernimento sobre o momento actual da Ordem. Os frades mais antigos ficam angustiados, mas penso que é um processo normal».
«Quando existe uma certa pluralidade e a possibilidade de analisar projectos de vida alternativos, os jovens escolhem aquele no qual se revêem mais», sustentou o carmelita.
«É um bom indicador quando as vocações não saem das massas. Acredito em “vocações de minorias”. Trata-se de uma escolha qualificada», declarou o religioso.
«Uma grande percentagem das vocações discernidas num contexto desfavorável sugerem a tentativa de uma promoção social. Não acredito nesses discernimentos! Veja-se o caso da Índia onde as vocações cresceram ex-ponencialmente!», afirmou o padre Gonçalves.
«Na Inglaterra, Irlanda, Suécia, Holanda e Bélgica não existe uma única vocação carmelita. Excepto a Irlanda, trata-se de um conjunto de países de minoria católica», explicou o carmelita.
Em sentido inverso encontra-se a Itália onde os Carmelitas Descalços possuem seis províncias. Aí, o número de vocacionados tem aumentado significativamente, cerca de dez estudantes de Teologia em cada uma das seis províncias. Em Portugal, a Ordem possui três estudantes de Teologia.
Encontro em Viana para partilha de experiências
Sobre o perfil dos estudantes que irão participar no V Encontro Europeu de Estudantes Carmelitas Descalços de Teologia, o padre Carlos Gonçalves referiu que se trata de «religiosos que fizeram noviciado e a profissão simples. São pessoas entre os 21 e os 35 anos. Hoje, as tomadas de decisão são mais tardias e a formação mais alargada».
«Estes religiosos estão numa fase de estudo do projecto de vida. É um período de tomada de decisão. Tenho de lembrar que são jovens em formação, daí a temática do encontro», salientou o clérigo.
No último encontro europeu, em Trento, definiu-se Portugal como país organizador. Na estrutura da equipa organizadora consta o presidente da comissão europeia dos carmelitas, duas pessoas do país organizador e um formador de cada grupo linguístico.
Os estudantes são oriundos de todo o espaço europeu, Líbano, Iraque e Egipto.
«No último encontro, os formadores avaliaram que as províncias estavam demasiado fechadas sobre si mesmas. Então, seria necessário partilhar internamente algumas experiências. Para além disso, a discussão sobre a Constituição europeia estava ao rubro. Assim, o encontro pretende realizar uma formação intensiva e de qualidade, questionando a nossa visão de Igreja e de mundo», referiu o sacerdote.
O evento, que discutirá os “Desafios/reptos da cultura europeia à Igreja, à Vida Religiosa e ao Carmelo”, contará com a presença de cerca de 110 estudantes carmelitas e os seus respectivos mestres de formação.
Não estamos vocacionados para as paróquias
«Não estamos vocaciona-dos para as paróquias», referiu o padre Carlos Gonçalves, OCD. «Não fomos formados para isso. Se assumirmos paróquias seremos maus car-melitas e maus párocos», enfatiza o religioso.
O religioso carmelita deu o exemplo de um encontro realizado há quatro anos em Bogotá, na Colômbia. «Realizou-se uma avaliação da presença carmelita nas paróquias e o resultado foi negativos», contou o sacerdote.
«Podemos ser diferentes, oferecer um “pacote” diferenciado se não reproduzimos o mesmo que os sacerdotes diocesanos», refere o carmelita.
«Na minha opinião, perdemos a nossa identidade. Passamos a ser meros funcionários do religioso. Os jovens que participaram no encontro “fizeram-se” no Carmelo, e foram inspirados por Teresa de Ávila e João da Cruz. Se forem párocos sentir-se-ão defraudados», afirma peremptório. Porém, o sacerdote afirma que «é dramático dizermos “não” a uma necessidade da Igreja».
[Alexandre Gonçalves]