Vaticano

A guerra que nunca acabou

Octávio Carmo
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Cáritas Iraque diz que a pacificação de Fallujah vai demorar muito tempo

A aviação norte-americana bombardeou, ontem à noite, posições rebeldes na cidade sunita de Fallujah, depois de fuzileiros terem sido atingidos por tiros. O mundo voltou a ver as imagens de guerra que se pensavam ultrapassadas de vez, mas a verdade é que esta guerra nunca acabou. O jornal da Santa Sé definia a situação em duas palavras: “sangue e chantagemâ€. Os sequestros e os atentados sucedem-se no país, matando indiscriminadamente soldados e civis, para um balanço trágico da ocupação militar. Entretanto, é a Cáritas no Iraque que vai tentando dar resposta às situações mais dramáticas para a população. Em pleno confronto entre grupos rebeldes e forças da coligação, a Cáritas fez chegar a Fallujah dois camiões com ajuda médica de emergência. Segundo informações dos responsáveis por esta organização católica de assistência, Fallujah tem actualmente 300 mil habitantes e a maioria da populações é composta por veteranos do exército iraquiano, pelo que a pacificação desta cidade “pode demorar muito tempoâ€. Com uma taxa de desemprego que ronda os 60% e uma crescente falta de alimentos, o povo iraquiano tem de ainda fazer face à falta de electricidade, água, comunicações, etc. Poucos ousam negar que a situação está pior do que estava antes. A este abatimento generalizado, junta-se a sensação de perigo permanente, em que todos têm consciência de que o Iraque é um território de conflito, onde todo o cuidado é pouco. Os líderes cristãos presentes no Iraque têm manifestado o receio de que o país se torne incontrolável no futuro. "Não queremos que o Iraque se transforme numa nova Palestina, sem um Estado, Nação abandonada a si mesma e à mercê de grupos terroristas", chegaram a afirmar. As minorias cristãs no Iraque estão preocupadas com o aumento do Islamismo radical e tentam agora assegurar que o novo regime reconheça o seu estatuto, num clima de respeito e diálogo inter-religioso. João Paulo II, um dos grandes opositores a esta guerra, lembrava, no início de 2004, aos embaixadores no Vaticano que o passado de divisões a este respeito já não interessa. Talvez por isso, vários responsáveis do Vaticano e líderes católicos no Iraque tenham apelado, nos últimos dias, às forças internacionais para que não abandonem o país, sob o risco de fazerem rebentar uma guerra civil. “Nós estávamos contra a guerra desde o início, mas agora é importante que os contingentes estrangeiros fiquem no Iraque. Se nos abandonassem, seria pior, seria uma catástrofe se se seguisse o péssimo exemplo de Madridâ€, afirmou nesta semana o bispo caldeu Shlemon Warduni em declarações ao jornal italiano “Il Corriere della Seraâ€. Na semana passado fora o responsável do Vaticano pelas áreas da justiça e da paz, o cardeal Renato Martino, a afirmar que “abandonar o Iraque precipitaria o país numa guerra civil, com o risco de desembocar num regime fundamentalistaâ€.


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