Vaticano

A Igreja Católica e as eleições nos EUA

Octávio Carmo
...

O Vaticano viu-se obrigado, no início desta semana, a assegurar que não tomou nem tomará nenhuma posição a respeito da corrida às presidências dos EUA. A questão, lançada pela publicação do Compêndio de Doutrina Social da Igreja, chega a poucos dias antes das eleições norte-americanas de 2 de Novembro. O porta-voz Joaquín Navarro-Valls evitou opinar sobre o caso concreto de John Kerry, o candidato democrata que se confessa católico, apesar de defender o aborto, mas sempre foi dizendo que, a esse respeito, competia aos Bispos norte-americanos falar. A partir da página oficial da Conferência Episcopal dos EUA (USCCB) ficamos a saber que, de facto, os Bispos norte-americanos falaram e escreveram muito sobre as próximas eleições, tentando explicar aos católicos alguns pontos que consideravam fundamentais. A USCCB tinha mesmo planeado a publicação de um questionário, feito aos dois candidatos, sobre vários assuntos da campanha, mas nem Bush nem Kerry apresentaram respostas ao mesmo. O documento “Catholics in Political Life”, aprovado pela assembleia plenária dos Bispos em Junho deste ano tratou quase exclusivamente sobre o aborto e o dever dos políticos católicos procurarem mudar o ordenamento legal neste aspecto. O arcebispo Charles J. Chaput, de Denver, e o Bispo Bernard W. Schmitt, de Wheeling-Charleston, centraram-se também no aborto. O Cardeal Francis E. George, de Chicago, dedicou a sua atenção à resposta da Igreja aos políticos católicos que apoiam o aborto, como John Kerry, e o arcebispo Chaput criticou duramente “os que dizem que os católicos não devem impor as suas convicções à sociedade” para justificar esta discrepância. A Guerra no Iraque, a pena de morte, o sistema de saúde e a pobreza foram os aspectos mais criticados da administração de George W. Bush. O Bispo auxiliar de Detroit, D. Thomas J. Gumbleton, escreveu que W. Bush, apesar da sua posição contra o aborto, “tem políticas opostas à cultura da vida”. A Pax Christi dos EUA publicou um comunicado intitulado “A vida não acaba com o nascimento”, onde pedia aos norte-americanos que tivessem em consideração todo o leque de matérias que contribuem para o bem comum da Nação, antes de votarem. A religião sempre esteve presente nas campanhas eleitorais norte-americanas e, em 228 anos história dos EUA, nunca a Casa Branca foi ocupada por um presidente ateu. O cristianismo tradicional de George W. Bush faria dele, segundo os que o apoiam, um melhor presidente, sobretudo nas questões morais pró-vida, mas os apoiantes de John Kerry defendem que o candidato democrata “corporiza a tradição católica de pôr o bem comum antes do proveito pessoal”. O presidente norte-americano George W. Bush e o candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, assumiram-se como homens de fé ao longo da campanha para as presidenciais nos EUA. Bush disse em público que a fé desempenhava “um grande papel na sua vida” e que reza muito. Kerry, por seu turno, disse que “a minha fé impregna toda a minha vida”. A candidatura de Kerry coloca, 44 anos depois da de John F. Kennedy, a questão do “eleitorado católico”, mas num contexto social e cultural muito transformado. Hoje é mais oportuno falar em “eleitores católicos” ou “católicos que votam”, dado que os conflitos sociais e políticos não se radicam em questões religiosas e o comportamento eleitoral dos católicos segue, em larga medida, o dos outros eleitores.


Igreja/Política