Vaticano

A Queda do McCarthismo

Francisco Perestrello
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Num acto de ousadia pouco comum o actor George Clooney, quase no início da carreira como realizador, optou por um trabalho político capaz de suscitar polémica e por uma estética inteiramente baseada na fotografia a preto e branco. E se o desafio era arriscado pode-se dizer que o venceu totalmente. Toda a acção do filme se passa em torno do canal de televisão CBS, em que um comentador de grande popularidade decide fazer frente às sucessivas pressões e repressões por parte do grupo de Senadores coordenado por Joseph McCarthy, a Comissão de Actividades Anti-Americanas. Lutando por uma verdadeira democracia põe a estação em risco, sendo muitas vezes avisado, mas nunca censurado, pelo Presidente da mesma. O mais importante do filme é o amplo debate a que dá lugar sobre os limites das liberdades individuais, e não apenas da liberdade de informação. Para o protagonista - o autor de programas Edward R. Murrow - não importa que o seu futuro esteja em jogo, pois mais importante é a preservação da liberdade de todos os que o rodeiam. E, contando com a sólida solidariedade da sua equipa, consegue manter regularmente no ar o seu programa de análise política e crítica social. David Strathairn foi o actor escolhido para o difícil papel principal, que desempenhou de forma a lhe valer, no mínimo, uma nomeação para o Oscar, o mesmo se verificando em relação ao próprio filme e ao seu realizador, George Clooney. A crítica política e social preenche a generalidade da acção, sempre com um notável equilíbrio e um sentido de justiça e cooperação humana dignas de realce. É certo que o McCarthismo não é hoje um risco, é passado, mas os factos narrados não podem deixar de ser cruzados com situações contemporâneas, em que as pressões e a corrupção estão longe de estarem erradicadas das sociedades, incluindo as que mais directamente nos dizem respeito, as dos países ocidentais. Francisco Perestrello


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