Vaticano

ABC da Sida e a Igreja Católica em Espanha

Octávio Carmo
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O secretário-geral da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), Juan António Martinez Camino, afirmou ontem que o uso de preservativos "tem o seu contexto numa prevenção integral e global da Sida". Após um encontro com a ministra da Saúde, Elena Salgado, marcado por iniciativa da CEE, o sacerdote disse que nas propostas da conferência episcopal cabem as recomendações científicas publicadas pela prestigiada revista "The Lancet", nas quais se defende uma estratégia que dá prioridade à abstinência sexual e à fidelidade, consideradas como as formas mais efectivas para a prevenção, antes do uso de preservativos (posição entretanto clarificada pela própria Conferência Episcopal Espanhola em comunicado, na íntegra em www.conferenciaepiscopal.es/actividades/2005/enero_19.htm). Na reunião de ontem, a CEE mostrou-se “muito preocupada e interessada” pelo que considera ser “um problema grave”. O último relatório da ONU sobre a Sida informa que em 2004 o número de pessoas infectadas pelo HIV atingiu um máximo histórico. Na Europa, apesar das numerosas campanhas de prevenção, o número de infectados subiu 112% nos últimos 5 anos. Perante esta situação, “The Lancet” deu a conhecer a estratégia conhecida como “ABC” da Sida, num artigo publicado pela revista científica no seu número do passado mês de Novembro, tentando encontrar "uma base comum" para a prevenção da transmissão sexual da doença, com o apoio de 130 peritos de 36 países. O documento propõe o “A” de abstinência, "B" de "be faithful" (sê fiel) e finalmente fala do "C" de "condom" (preservativo), advertindo que o seu uso reduz, mas não elimina totalmente, o risco de contágio. Em Novembro de 2001, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa escreveu uma Nota Pastoral intitulada “Os cristãos e a luta contra a Sida”, na qual se defendia que “a fidelidade conjugal ou ao parceiro que se elegeu para partilhar a vida, a castidade como expressão de uma vivência equilibrada e generosa da sexualidade, são elementos decisivos na luta contra este flagelo”. “São sobejamente conhecidas as reticências da moral católica em relação ao uso generalizado do preservativo, porque ele significa uma alteração profunda do sentido e da dignidade da sexualidade humana. Nenhuma razão pode levar a Igreja a deixar de afirmar claramente essa verdade, pois só ela pode atrair as pessoas para novas etapas de responsabilidade e generosidade”, escrevia então a CEP.


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