Missa no Estádio Amadou Ahidjo, num festival de cores e sons, foi o momento alto da visita aos Camarões
Um festival de cores e sons acolheu Bento XVI no Estádio Amadou Ahidjo, em Yaoundé, para a celebração da Missa em que o Papa entregará aos episcopados de África o documento orientador («Instrumentum laboris») para o II Sínodo africano, que se realizará em Outubro próximo, no Vaticano.
O arcebispo de Yaoundé, D. Victor Tonyé Bakot, saudou o Papa como o «Grande Mvamba» (Grande Pai), em língua ewondo.
Na sua homilia, o Papa sublinhou que "a África é chamada à esperança através de vós e em vós. Com Cristo Jesus, que calcou o solo africano, a África pode tornar-se o continente da esperança".
“Neste nosso tempo, em que tantas pessoas sem escrúpulos procuram impor o reino do dinheiro desprezando os mais indigentes, deveis estar muito atentos. A África em geral e os Camarões em particular correm perigo se não reconhecem o Verdadeiro Autor da Vida”, alertou, por outro lado.
“Irmãos e irmãs dos Camarões e da África, que recebestes de Deus tantas qualidades humanas, tende cuidado das vossas almas! Não vos deixeis fascinar por falsas glórias e falsos ideais! Crede, sim, continuai a crer que Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, é o único que vos ama como vós o esperais, a crer que Ele é o único que pode satisfazer-vos, que pode dar estabilidade às vossas vidas”, acrescentou.
Num tom mais familiar, o Papa começara por “desejar uma festa feliz a todos aqueles que, como eu, receberam a graça de ter este belo nome e peço a São José que lhes conceda uma protecção especial”. “Na história, José é o homem que deu a Deus a maior prova de confiança, precisamente face a um anúncio tão assombroso”, acrescentou.
“Só Deus podia dar a José a força para dar crédito às palavras do Anjo. Só Deus vos dará, amados irmãos e irmãs que sois casados, a força de educar a vossa família como Ele o quer”, disse Bento XVI.
Para o Papa, “no vosso país e no resto da África, tal como noutros continentes, a família conhece efectivamente um período difícil que a sua fidelidade a Deus ajudará a superar. Alguns valores da vida tradicional foram perturbados”.
“Muitas vezes, assiste-se a um êxodo rural comparável ao que viveram numerosos períodos humanos. A qualidade dos vínculos familiares acaba por ser profundamente afectada. Desenraizados e fragilizados, os membros da jovens gerações, muitas vezes sem um verdadeiro trabalho, procuram remédio para a sua vida infeliz refugiando-se em paraísos efémeros e artificiais importados, que, como se sabe, nunca chegam a assegurar ao homem uma felicidade profunda e duradoura”, referiu.
Bento XVI sublinhou que “às vezes o homem africano é constrangido a fugir para fora de si mesmo e a abandonar tudo o que constituía a sua riqueza interior. Confrontado com o fenómeno duma urbanização galopante, ele abandona a sua terra, física e moralmente”, para uma espécie de “exílio interior que o afasta do seu próprio ser, dos seus irmãos e irmãs de sangue e do próprio Deus”.
Numa palavra “amiga e encorajadora” aos jovens, o Papa disse que “a vossa existência tem um valor infinito aos olhos de Deus. Deixai-vos agarrar por Cristo, aceitai dar-Lhe o vosso amor e – porque não! – vós mesmos no sacerdócio ou na vida consagrada. É o serviço mais alto”.
“Às crianças que já não têm um pai ou que vivem abandonadas na miséria da estrada, àquelas que foram violentamente separadas dos seus pais, maltratadas e abusadas, e incorporadas à força em grupos militares que imperam em alguns países, quero dizer: Deus ama-vos, não vos esquece e São José vos protege. Invocai-o com confiança”, afirmou ainda.
Este é o momento alto da visita aos Camarões e tem sido caracterizado pela diversidade de línguas utilizadas na cerimónia, símbolo de um país em que centenas de etnias vivem em harmonia – uma espécie de “África em miniatura”, como disse antes o Papa, que gostaria de ver o exemplo transposto para todo o Continente.
Na saudação às milhares de pessoas reunidas no Estádio (estima-se que sejam 60 mil), “vindas de todos os países de África”, o Papa falou num “dia de Pentecostes” em que serão “ouvidas e cantadas as maravilhas do Senhor, cada um na sua língua, mas num só coração”.
Mais à frente, o Bento rezou pelo próximo Sínodo sobre a Igreja em África, “ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, para que este acontecimento leve “frutos abundantes a todo o Continente”.
O latim misturou-se ao longo da celebração com os batuques e xilofones que acompanharam cânticos de ritmo africano.
Na oração dos fiéis foram recordados os Chefes de Estado africanos, lembrando a “necessidade de desenvolvimento”; pelos países vítimas de “violência fraticida”, em partiuclar o Congo, o Uganda e o Chade; pelas vítimas da “crise económica” e pelas “populações ameaçadas por calamidades como a SIDA”.
FOTO: Lusa