Historicamente é bem recente o regime de Apartheid na África do Sul. Só entre 1993 e 1996, com a entrada em vigor de uma nova Constituição e o início de actividade da Comissão para a Verdade e Reconciliação, foi possível dar início a um Estado em que se garantia o respeito pelos direitos humanos. Mesmo tratando-se de factos recentes e que foram largamente noticiados, muitos serão os que desconhecem ou esqueceram boa parte dos acontecimentos arrastados pelas profundas mudanças verificadas. Por esta razão é muito oportuna a realização de «Um Amor em África», uma produção britânica levada a cabo sob a direcção do veterano John Boorman.
O filme contém muita e valiosa informação sobre a actividade da Comissão acima referida, que concedia a amnistia sobre os crimes do passado desde que confessados perante as respectivas vítimas. Foi uma tentativa de reconciliação nacional que permitiu que fossem perdoados mais de mil dos autores dos crimes, depois de ouvidos quase vinte e dois mil testemunhos de vítimas.
A descrição dos trabalhos desta Comissão e dos acontecimentos que em torno da mesma se foram verificando é a verdadeira razão de ser do filme, pena sendo que uma componente romântica, bem pouco convincente, se venha misturar nos acontecimentos históricos quebrando um tanto o equilíbrio e o ritmo da narrativa. Curiosamente o título original, «Country of My Skull», é bem mais incisivo que o adoptado em Portugal em que se aposta precisamente no aspecto menos interessante com a designação «Um Amor em África».
Dois actores de reconhecida qualidade – Samuel L. Jackson e Juliette Binoche – dão o necessário suporte para que intensidade dramática seja atingida na medida que o tema exige. Não se atinge o nível que se esperaria de um trabalho de John Boorman, mas são inegáveis os elementos de interesse contidos no argumento, adaptado de um romance de Antjie Krog.
Francisco Perestrello