Mais de 50 mil cristãos já fugiram do Iraque, desde o início da invasão norte-americana, fruto da violência e da degradação das condições de vida.
“O povo morre a cada dia, não só pela falta de alimentos e medicamentos: morre moral e culturalmente, é privado da sua identidade, da liberdade e do seu direito de viver em paz, como os outros povos da terra” refere à agência Fides o Pe. Waheed Gabriele Tooma, Procurador da Ordem Antoniana de S. Ormisda dos Caldeus.
O número de cristãos no Iraque é de cerca de 750 mil. Após a série de atentados contra igrejas cristãs, mais de 50 mil cristãos iraquianos emigraram em direcção à Síria, Jordânia e Turquia, por causa das ameaças de fundamentalistas islâmicos.
“Vivemos numa situação muito perigosa: não podemos sequer sair para ir à Missa. Sacerdotes e religiosos estão a ser perseguidos dentro e fora das igrejas, por isso estamos fechados em casa” referem as Irmãs Dominicanas da Apresentação, de Mossul, à agência do Vaticano para as missões. A Congregação possui 7 casas no Iraque, no total de 40 religiosas, empenhadas na área do ensino, do acolhimento de crianças e jovens, e na assistência sanitária.
No passado mês de Dezembro o Papa condenou os atentados cometidos no Iraque contra a minoria cristã, após a destruição de uma igreja arménia-católica e do edifício do arcebispado caldeu. Outras cinco igrejas de Bagdad foram alvo de uma série de ataques simultâneos a 19 de Outubro que não fizeram vítimas.
A minoria cristã já tinha sido alvo de actos de violência em Agosto, quando seis atentados contra locais de culto cristãos causaram 10 mortos e 50 feridos em Bagdad e Mossul.
Estas comunidades representam umas das mais antigas comunidades cristãs do Oriente, remontando ao século II. As suas raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI. Sendo uma minoria neste país (3%) a importância histórica e sentimental destas comunidades que ainda hoje celebram em aramaico, a língua de Jesus, nunca foi menosprezada.
Segundo a Fides, a situação dos cristãos tende a agravar-se com o aproximar das eleições, mormente por causa da “florescente indústria dos sequestros”, que atinge estrangeiros, iraquianos mais ricos (em troca de resgate) e pessoal religioso, especialmente cristão, alvo do fundamentalismo religioso.
O Pe. Waheed Gabriele Tooma, monge Caldeu, viu esta semana serem sequestrados dois confrades, em Bagdad. “Graças a Deus libertados após dois dias de cativeiro”, assinala.
“Na minha cidade natal, Zakho, no Curdistão, a situação está mais tranquila. Muitos iraquianos de Bagdad foram para lá, deixando casas e trabalhos, para fugir dos bombardeamentos, dos carros-bomba e das ameaças quotidianas”, relata.
Descrevendo uma situação de caos na capital iraquiana, o religiosos adianta que “o povo não acredita numa mudança real”.
“Para que haja eleições democráticas e livres, antes de tudo, será preciso preparar o terreno e colocar fim ao terrorismo”, aponta.