Intenção Geral de João Paulo II para o Apostolado da Oração no mês de Agosto: «Que a União Europeia reconheça o seu património cristão, como parte fundamental da sua história e cultura»
Intenção Geral de João Paulo II para o Apostolado da Oração no mês de Agosto: «Que a União Europeia reconheça o seu património cristão, como parte fundamental da sua história e cultura»
1. Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia aprovaram o texto final da Constituição Europeia recusando qualquer referência explícita ao incalculável contributo do cristianismo para a formação, história e cultura da Europa. Num Tratado que se pretende fundador da Europa do futuro, este desprezo do passado e do presente não augura grande solidez à «nova Europa»… na qual se pretende incluir, a curto prazo, a Turquia, país muçulmano e essencialmente asiático – como sinal de boa vontade relativamente ao mundo islâmico e como afirmação de que a Europa não é um «clube cristão». Não é certo se vai ser exigido à Turquia que renuncie ao islamismo e se torne religiosamente «neutra» – provavelmente, não, até porque desse modo será mais claro que o problema dos governantes europeus é com a «herança cristã» dos seus países e não com a realidade islâmica do grande vizinho da Ásia Menor.
2. A suspeita relativamente à herança judaico-cristã da Europa – que, juntamente com a tradição clássica greco-romana, lhe deu forma e sentido – é característica do laicismo vigente, na sua forma mais ignorante, agressiva e militante, que levou o Presidente francês a afirmar ser a Europa tanto fruto do cristianismo como do islamismo!... Para este laicismo, a religião é uma realidade marginal, tolerada nos indivíduos como subproduto de um atraso cultural destinado a desaparecer pela iluminação das inteligências e libertação dos medos supersticiosos. Tolerada no âmbito da liberdade de consciência individual, a religião não tem lugar no espaço público – menos ainda se lhe deve permitir qualquer capacidade de influência na organização da coisa pública! Ao Estado «laico» cabe ser rigorosamente «neutro», relativamente às expressões religiosas, como se tal «neutralidade» não fosse também um modo de tomar posição, sobretudo quando se traduz em legislação que, objectivamente, dificulta o livre exercício familiar, comunitário e público da liberdade religiosa – veja-se, em França, o caso da legislação sobre o uso de símbolos religiosos nas escolas do Estado.
3. O enquistamento laicista dos governantes europeus impediu a referência ao cristianismo no preâmbulo do Tratado Constitucional Europeu. Tal não deve ser encarado, porém, como o fim do caminho. Mantém-se em aberto a possibilidade do essencial: o anúncio do Evangelho aos povos europeus, povos de antiga tradição cristã que, em grande número, a ignoram. Neste anúncio, a dimensão ecuménica tem de ser sempre mais visível, para que o Evangelho seja anunciado a uma só voz, pela única Igreja de Cristo, na diversidade das múltiplas tradições eclesiais. A esta Europa, o cristão anuncia a fé no Deus-Trindade e na encarnação, morte e ressurreição da segunda Pessoa desta Trindade – nada menos do que isto! Não o fazer com clareza e amor, ao jeito do próprio Cristo que deu a vida pela humanidade, é transigir com o ar do tempo, especializado numa religião intimista, de supermercado, ao gosto e jeito de cada um, sem compromisso nem exigência de conversão.
4. Na Europa actual, é tarefa das Igrejas testemunhar Cristo e o seu Evangelho como parte essencial da sua história e cultura. É seu dever anunciar-lhe que, sem Cristo, será um continente irreconhecível, e que o seu futuro só poderá ser menos brilhante do que o melhor do seu passado. Este anúncio não se fará sem entraves. Há forças poderosas que tudo farão para o desacreditar – até no interior da Igreja, defendendo contemporizações espúrias, rejeitando o Magistério e a Tradição eclesiais, acolhendo mais facilmente o pensador da moda do que a voz do Papa... Estas adversidades, porém, devem ser estímulo para uma fé mais enraizada em Cristo, uma esperança mais forte no Espírito Santo e uma caridade sempre mais operante, sinal último e eficaz da fidelidade a Jesus e ao seu Evangelho. Procurando, deste modo, o «Reino de Deus e a sua justiça», o resto virá por acréscimo… (Mt 6, 33).
Elias Couto