Vaticano

Arcebispo de Mossul defende a realização de eleições, «haja o que houver»

Octávio Carmo
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D. Basile Georges Casmoussa critica ainda as forças norte-americanas por não assegurarem a segurança no país. Do Iraque chegam novos relatos das perseguições aos cristãos

O arcebispo de Mossul, D. Basile Georges Casmoussa, defende que as eleições no Iraque devem ter lugar já em Janeiro próximo, “haja o que houver”. “Exigimos que as eleições tenham lugar e que os norte-americanos partam. Mesmo se os terroristas tentarem impedir o acto eleitoral, com atentados, isso é preferível a um eventual adiamento”, assegurou. O prelado, da Igreja sírio-católica, referiu à Apic que a situação que se vive no país pode ser definida como “o caos total, tanto do ponto de vista político como na segurança”. “Na actual situação, os iraquianos correm muito mais perigo de serem raptados do que antes: esperámos seis meses, para dar tempos às forças da coligação, mas as coisas pioraram e nada foi feito para fazer face a esse agravamento”, lamentou. O prelado discorda do discurso oficial dos norte-americanos, que asseguram ter levado ao Iraque democracia e liberdade. “O que eles nos trouxeram, efectivamente, foi o terror e o caos”, frisa. “Nunca fomos protegidos, porque os norte-americanos apenas podem assegurar, e mal, a sua própria segurança”, atira. Cristãos em risco Os cerca de 700 mil cristãos no Iraque estão agora na mira dos fundamentalistas islâmicos. Muitos deles, 40 mil, já terão fugido para a Síria e o Líbano, à espera de melhores dias. A situação agravou-se significativamente nas últimas semanas, com novas vagas de atentados: “os cristãos iraquianos estão a ser obrigados a celebrar Missas debaixo das igrejas. Vivem sob constante ameaça de morte. Pedimos à comunidade internacional e à Igreja que nos ajude!”. Este é o apelo enviado à agência Fides, do Vaticano, por Elias, um católico de Bagdad. O relato que o homem de 30 anos oferece à Fides mostra as condições de vida dramáticas dos cristãos na capital iraquiana. “Não podemos sair de casa, porque as ruas são perigosas, a qualquer hora do dia ou da noite, ouvem-se tiros de morteiros, usados pelos rebeldes contra os norte-americanos e os funcionários do governo. Todos os dias, morrem policiais, soldados e civis iraquianos”, refere “Estamos numa verdadeira guerra civil. Quando alguém de nós, cristãos, sai de casa, não sabe se voltará são e salvo”, assegura. Depois do primeiro atentado às igrejas de Bagdad, em Agosto, mais de 4000 famílias cristãs fugiram para a Síria e a Jordânia. Os cristãos definiram o dia 1 de Agosto de 2004 como o ‘dia do sangue’. E o atentado de 16 de Outubro passado demonstra que os ataques contra os cristãos prosseguem. “Os fundamentalistas islâmicos querem expulsar-nos do Iraque: dizem que é uma terra muçulmana e chamam-nos ‘cruzados’. Acredito que 80% dos mullah difundam o ódio e alimentem o fundamentalismo”, assinala.


Guerra do Iraque