Numa mensagem enviada à Ajuda à Igreja que Sofre após o segundo dia de violentos motins ocorridos em Cartum, a capital do Sudão, o Cardeal Gabriel Wako pede "por favor, rezem por nós".
O Arcebispo de Cartum descreve um cenário de horror nas áreas urbanas: "Não estamos seguros nem na nossa própria casa. As pessoas são arrastadas de dentro dos autocarros e depois são massacradas".
Segundo informações do Crescente Vermelho, pelo menos 130 pessoas terão morrido e outras 800 ficaram feridas (de acordo com a BBC) no surto de violência que eclodiu no nas cidades de Cartum, Juba e Malakai no dia 1 de Agosto, após a morte do líder do Exército Popular de Libertação do Sudão, John Garang, num acidente de helicóptero.
Desde logo surgiram suspeitas de que o acidente que vitimou o líder do movimento rebelde – que no sul do Sudão lutou durante décadas com o Governo islamista de Cartum – tinha sido planeado. John Garang fora nomeado Vice-presidente do Sudão há três semanas, após em Janeiro ter assinado com o Governo um histórico acordo de paz que pôs fim a um longo conflito armado.
Após a notícia da morte do líder rebelde, estalou a violência nos arredores de Cartum e noutras áreas urbanas do norte entre sudaneses do sul (maioritariamente negros cristãos ou animistas) e sudaneses do norte (principalmente árabes muçulmanos).
Milhões de sudaneses oriundos do sul vivem ainda em campos de deslocados em redor de Cartum e terão estado especialmente vulneráveis a ataques durante os últimos dias.
D. Gabriel Wako relatou que "bandos de sudaneses do norte procuraram pessoas do sul para os espancarem e matarem".
Também o Padre John Martino, reitor do Seminário de São Paulo em Cartum, relatou que em Haj Yousif, uma cidade nos arredores da capital, "todas as lojas, as bombas de gasolina e os mercados foram saqueados e incendiados".
Em Cartum, os comerciantes árabes "começaram a atacar as pessoas do sul e de raça negra com facas, barras de ferro e até armas de fogo. Muitas pessoas foram mortas ou feridas", acrescentou o reitor.
A ONG Human Rights Watch recebeu informações de que em algumas áreas de Cartum, houve incitamentos nas mesquitas para que os muçulmanos "se ocupassem dos infiéis".
Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre