Vaticano

Atentado contra o Papa foi ordenado pelo KGB

Octávio Carmo
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Documentos dos antigos serviços secretos da Alemanha Oriental, a Stasi, confirmam que o atentado contra o Papa João Paulo II em 1981 foi ordenado pela KGB e executado pelos serviços secretos búlgaros, informou ontem o Corriere della Sera, o jornal italiano de maior tiragem. Segundo o jornal, o Governo alemão descobriu nos arquivos da Stasi os documentos que dão crédito à tese segundo a qual o KGB, a polícia secreta da ex-União Soviética, ordenou o atentado. Os serviços secretos búlgaros ficaram então encarregues da sua execução, para a qual contrataram o turco Ali Agca e outros terroristas ligados a grupos de extrema-direita. A então República Democrática Alemã tinha, por seu lado, a responsabilidade de conduzir a operação e as operações de despistagem pós-atentado. Os documentos foram enviados pelo governo alemão ao governo búlgaro. Estes foram colocados à disposição da Itália, onde foram confiados à comissão parlamentar que investiga as actividades dos serviços secretos dos países do leste europeu na Itália. Tratam-se, na sua maioria, de cartas em que os serviços secretos alemães pedem a ajuda e a cooperação de seus colegas búlgaros, para eliminar as pistas e negar a versão de uma participação búlgara no atentado contra o Papa. No seu último livro “Memória e Identidadeâ€, João Paulo II afirma-se convencido de que Ali Agca actuou a mando de alguém, sem citar nenhum país. Há três anos, na Bulgária, o Papa afirmou que "nunca" acreditara na pista búlgara sobre o atentado. João Paulo II acredita que uma "ideologia da prepotência encomendou o atentado" executado por Ali Agca a 13 de Maio de 1981. Em "Memória e Identidade", o Papa apresenta pela primeira vez as suas convicções sobre a responsabilidade por este episódio. "Acredito que este atentado foi uma das últimas convulsões das ideologias da prepotência, que se desencadearam no século XX. A violência motivada por tais argumentos também se manifestou aqui na Itália: as Brigadas Vermelhas matavam homens inocentes e honestos", relata. Narrando depois a conversa que teve em 1983 com Agca na prisão, escreve: "Ali Agca, como todos dizem, é um assassino profissional. Isto significa que o atentado não foi uma iniciativa sua. Alguém o idealizou, alguém o contratou para executá-lo". Do atentado, João Paulo II falou diversas vezes, principalmente para afirmar a sua convicção de que a bala mortal foi desviada pela mão da Virgem de Fátima. "Foi um testemunho da graça divina", refere no livro.


João Paulo II