Bento XVI: José Manuel Fernandes diz que a renúncia abriu espaço para «um novo paradigma» no processo de sucessão
Jornalista destaca a «decisão individual» de Joseph Ratzinger, feita em nome da «reforma» da Igreja Católica
Lisboa, 05 fev 2014 (Ecclesia) – O jornalista José Manuel Fernandes considera que a renúncia de Bento XVI, decisão anunciada a 11 de fevereiro de 2013, abriu espaço para “um novo paradigma” na instituição do papado e no seu processo de sucessão.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o antigo diretor do jornal ‘Público’ salienta que aquilo que até agora obedecia, salvo “raríssimas” exceções, à “ordem natural das coisas” ganhou novos contornos com a renúncia de Bento XVI, uma “decisão individual”, feita em nome da “reforma” da Igreja Católica.
“Talvez daqui a uns tempos, possamos avaliar melhor se o ato de renúncia foi ou não revolucionário”, aponta José Manuel Fernandes, aprofundando depois o alcance que o gesto de Bento XVI teve.
O atual responsável pela revista ‘XXI, Ter Opinião’, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, recorda que a resignação do agora Papa emérito surgiu numa altura em que a Igreja Católica procurava responder a uma “frente muito delicada”.
Bento XVI estava a lidar com casos de pedofilia e abusos sexuais que envolviam membros do clero, com lutas de poder na Cúria Romana e com suspeitas de corrupção em instituições como o Banco do Vaticano.
Neste contexto, “ele deve ter tido a noção de que já não tinha a energia necessária para fazer as reformas” adequadas numa instituição tão “burocrática” como a Igreja Católica e que “não era possível esperar até que, pela ordem natural, fosse substituído”, realça José Manuel Fernandes.
No entanto, antes de renunciar ao seu pontificado, o Papa alemão conseguiu atender ao problema da pedofilia e dos abusos de uma maneira “muito mais determinada, muito mais dura do que tinha acontecido até essa altura”.
“Se há algo que marcou o apostolado de Bento XVI”, frisa o comunicador, “foi a forma como ele enfrentou isso, as medidas tomadas, as expulsões que vieram a ocorrer foram desencadeadas no seu mandato”.
Olhando depois para aquilo que a sucessão de Joseph Ratzinger para Jorge Mario Bergoglio representou em termos de modelo de liderança para a Igreja Católica, José Manuel Fernandes defende que, ao contrário daquilo que “a comunicação social quer fazer crer”, as duas figuras “não estão assim tão separadas uma da outra”.
O jornalista dá como exemplo a forma como os dois últimos Papas refletiram sobre a crise socioeconómica, nas suas encíclicas e mensagens.
“Aquilo que o Papa Francisco diz de uma forma muito terra-a-terra, pela qual às vezes o acusam de ser populista, não é muito diferente do que já estava na encíclica sobre a Caridade ou na intervenção de Ano Novo de 2013 de Bento XVI”, sustenta José Manuel Fernandes.
O que está em causa é sobretudo a forma como os dois líderes católicos foram recebidos pelo “ambiente mediático”, conclui.
O programa ECCLESIA na Antena 1 (22h45) está a evocar esta semana o anúncio da renúncia de Bento XVI ao pontificado, com análises de vários convidados.
SN/JCP
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