Vaticano

Bispos angolanos apelam à participação da sociedade civil na reconstrução do país

Octávio Carmo
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Os bispos católicos de Angola consideram que apenas a participação da sociedade civil no desarmamento e nas eleições poderá “assegurar a transparência desses processos”. Esta posição foi assumida no final do XI encontro nacional da Comissão Episcopal de Justiça, Paz e Migrações da Igreja Católica em Angola. De acordo com o texto das conclusões, “há urgência de uma lei bem regulamentada, que possibilite a participação da sociedade civil na sensibilização para o desarmamento, recolha e destruição das armas em posse dos civis e da defesa civil”. O texto refere a “disponibilidade e abertura da Igreja na educação cívica dos cidadãos para as próximas eleições gerais e a necessidade de um quadro jurídico que regule a participação da sociedade civil no registo, monitorização, observação e na Comissão Nacional Eleitoral”. O documento aborda ainda “a necessidade de uma maior liberdade de expressão e tolerância política, sobretudo no interior do país, que passa pela extensão dos meios de comunicação pública e privados, em particular a Rádio Ecclesia.” Durante o encontro, as várias dioceses representadas apresentaram os seus relatórios que permitiram fazer uma avaliação do trabalho desenvolvido bem como ter uma visão abrangente da situação real vivida no país. Os pontos mais focalizados e que mereceram maior reflexão, pelo impacto negativo, foram as acusações de feitiçaria “a velhos e crianças, que têm levado à morte muitas pessoas, por todo o país”; a intolerância política que se regista em algumas partes de Angola; o excesso de prisão preventiva e dificuldades de acesso aos órgãos de justiça; o mau tratamento dos estrangeiros, por parte das FAA e da Polícia Nacional na ‘Operação Brilhante’, e ainda a continuação da guerra em Cabinda. Os promotores da Justiça e Paz consideram urgente que se chegue a uma solução negociada para a questão deste enclave “antes das próximas eleições.” O evento decorreu de 14 a 17 de Setembro e nele participaram 32 representantes de 13 Dioceses e foi orientado pelo presidente da Comissão Episcopal de Justiça, Paz e Migrações e Arcebispo do Lubango, Dom Zacarias Kamuenho. Já em Portugal, o presidente da Conferência Episcopal Angolana o reforço das instituições democráticas daquele país, considerando esse processo um "factor decisivo" para a paz em Angola. No final de uma conferência integrada nas "Jornadas Missionárias 2004", que decorreram este fim-de-semana em Fátima, D. Damião Franklin, bispo de Luanda, mostrou-se confiante no processo de paz mas apelou a uma maior afirmação das instituições democráticas. Para o prelado, o fim das guerras em África passa pelo reforço das instituições de modo a que os conflitos entre as partes possam resolver-se no quadro eleitoral ou parlamentar. "Quanto maior for a dimensão institucional, menor será o risco de guerras", afirmou.


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