Os bispos católicos de Angola publicaram hoje uma Mensagem Pastoral onde criticam a situação de guerra que ainda existe no enclave de Cabinda e exigem transparência na exploração do petróleo.
A Mensagem, intitulada “Angola no caminho da esperança”, mostra-se muito dura para com o secretismo que envolve o total das receitas oriundas do petróleo e a sua aplicação.
“Neste público exame de consciência, ousamos pedir a quem de direito e de dever uma total transparência administrativa, mormente na exploração dos petróleos bem como doutras riquezas minerais”, atiram.
Em relação ao que os bispos denominam claramente de “guerra de Cabinda”, as acusações dão conta de que ainda hoje “irmãos nossos têm sido dizimados por uma luta armada, cujas principais vítimas são sempre os mais inocentes: velhos, mulheres e crianças”.
“É pela força do direito, reconhecido através do diálogo, que o caso de Cabinda deve ser resolvido”, asseguram os líderes da Igreja Católica em Angola.
O texto, publicado pela Agência ECCLESIA, surge num dia em que um relatório da Global Witness é divulgado por esta organização não-governamental, com sede em Londres, apresentando novas provas sobre os esquemas ilícitos ligados ao negócio do petróleo.
Os bispos lembram que Angola, sendo o segundo produtor africano de petróleo depois da Nigéria, ocupa o 161º lugar entre os 173 países com mais baixo índice de desenvolvimento humano.
“Os petróleos e os diamantes alimentaram, quase sozinhos, a nossa terrível guerra durante cinco lustros. E no fim de esta guerra acabar, muita gente se admirou de os mesmos recursos não serem capazes de alimentar os deslocados, dois milhões dos quais, pelo menos, tiveram que ser socorridos com a ajuda humanitária vinda do exterior”, acusam.
Para uma maior transparência administrativa quanto ao petróleo, os prelados exigem que as próprias companhias petrolíferas colaborem e “tenham a coragem de dizer quanto pagam”.
“É imperioso que a exploração dos petróleos e doutras riquezas minerais tenha a sua justa contrapartida em investimentos produtores de riqueza. Se assim não for, o País vai empobrecer mais, ficando sem petróleos, sem diamantes e sem investimentos que os possam compensar”, escrevem.
A Mensagem parte da decisão do Governo de Angola e da UNITA de assinar, em 4 de Abril de 2002, o Memorando de Entendimento Adicional ao Protocolo de Lusaka sobre a Cessação das Hostilidades e a Resolução sobre as Questões Militares Pendentes no Âmbito do Protocolo de Lusaka. Esse “sinal de esperança”, contudo, tem vindo a ser abafado por vários “sinais negativos”, segundo os líderes católicos angolanos.
Nesse sentido, pedem um combate “eficaz e urgente” da pobreza e da fome, citando estatísticas que apresentam 68% da população a viver abaixo dos limites da pobreza, “o que significa miséria”.
“No contexto da reconstrução nacional, o imperativo dos imperativos é a prioridade de matar a fome ao Povo”, afirma a Mensagem Pastoral.
Lamentando que Angola tenha passado de um país exportador para uma situação em que vive “de alimentos importados ou doados do exterior”, os Bispos advertem que “ou nós matamos a fome ou a fome nos mata a nós”.
O documento aborda ainda o flagelo da Sida, retomando a posição oficial da Igreja Católica: “o método mais eficaz que até hoje se conhece, para prevenir a sida sexualmente transmissível, é aquele que a Igreja tem ensinado e continua a ensinar: antes do casamento, abstinência total; depois do casamento, fidelidade total”.
A Igreja Católica em Angola manifesta a intenção de ser “uma isenta parceira do Estado na educação massiva do povo”, criticando o que considera serem “detestáveis crenças sectárias e feiticistas que dão origem à insegurança pessoal e à prática de hediondas injustiças, como está acontecer”.
Veja o texto• Mensagem Pastoral dos Bispos Católicos de Angola