Os líderes da Igreja Católica caldeia, no Iraque, classificaram como um «acto horrível contra Deus e contra a Humanidade» o assassinato de um sacerdote da Igreja Católica de rito caldeu em Mossul (norte do Iraque) em frente à igreja do Espírito Santo, depois da celebração eucarística.
O Pe. Ragheed Ganni, de 34 anos, foi abatido a tiro frente à igreja do Espírito Santo, juntamente com três diáconos da comunidade caldeia, uma das mais antigas do mundo.
É com o “coração em luto e cheio de amargura” que a Igreja caldeia chora os seus “mártires”, refere uma Declaração conjunta do Patriarca e dos bispos caldeus, difundida pela Agência AsiaNews.
A condenação do Patriarca Emmanuel II Delly e dos outros prelados chegou poucas horas depois do assassínio. “Trata-se de um crime vergonhoso, rejeitado por toda e qualquer pessoa. Aqueles que o cometeram realizaram um acto horrível contra Deus e contra a Humanidade, contra os seus irmãos que eram cidadãos fiéis e pacíficos, para além de serem homens de religião que sempre ofereceram as suas orações e as suas súplicas a Deus Omnipotente para que trouxesse paz, segurança e estabilidade a todo o Iraque”, pode ler-se.
Os Bispos caldeus, reunidos nestes dias no seu Sínodo patriarcal, rezam pelos que foram mortos, recordando as perseguições dos cristãos iraquianos, a sua emigração forçada e o facto de estarem a ser pressionados paraa renegar a própria fé. Nesse sentido, pedem aos responsáveis do Iraque e às organizações internacionais para intervirem tomando as medidas necessárias "para pôr termo a estes actos criminosos”.
O Padre Regheed foi o primeiro padre católico a ser morto no Iraque desde 2003. No ano passado, em Mossul, tinha sido assassinado um clérigo sírio-ortodoxo, Pe. Paul Iskandar.
A perseguição contra os cristãos tem vindo a agravar-se nas últimas semanas e ainda esta sexta-feira tinha chegado a notícia da ocupação, por extremistas islâmicos, do Convento das Irmãs do Coração de Jesus, em Bagdad, que serve agora como base de operações para terroristas.
(Com Rádio Vaticano)A história da Igreja Caldeia
O Apóstolo Tomé, antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos, Mar Addai e Mar Mari. Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje são a Síria, o Irão e o Iraque.
Estas comunidades representam umas das mais antigas comunidades cristãs do Oriente, remontando ao século II. As suas raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI.
Esta Igreja, chamada Igreja Assíria do Oriente, obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger um Patriarca com o título de “Católico”.
O fulgor inicial foi-se desvanecendo e já no século XV confronta-se com uma grave crise, originada por uma sucessão hereditária de Patriarcas, como se de uma monarquia se tratasse. A reacção a este estado de coisas levou a que um grupo de Bispos Sírios se empenhasse na recuperação da tradição monástica oriental, elegendo o monge Yuhannan Sulaka como seu Patriarca e enviando-o a Roma para pedir o reconhecimento do Papa.
Foi assim que, em 1553, o Papa Júlio III nomeou o “Patriarca dos Caldeus” e deu origem, oficialmente, à Igreja Caldeia. Durante mais de 200 anos existiram tensões nesta zona entre as comunidades a favor ou contra o reconhecimento da universalidade da Igreja de Roma e a situação só estabilizou quando em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como chefe de todos os católicos caldeus.
A sede deste Patriarcado era Mossul, no norte do Iraque, e seria transferida para Bagdad em 1950, após a II Guerra Mundial.
O Rito caldeu
Um rito é um modo específico de adorar Deus no contexto de determinado povo, uma maneira particular e coerente de chegar até Deus.
O rito Caldeu é um dos 5 principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação “siro-oriental”.
As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos, em alguns casos. Escutar a Palavra de Deus, celebrar o mistério do Corpo e Sangue de Jesus e participar no banquete do pão e do vinho são as traves-mestras da celebração eucarística.
A Palavra é proclamada desde o “bema”, uma tribuna situada no meio da Igreja, como sinal de Jerusalém, centro do mundo, onde Jesus ensinou. Este simbolismo indica que o leitor ou o pregador mais não fazem do que transmitir a Palavra recebida do Senhor. A consagração eucarística, chamada “santificação” tem lugar no “santo dos santos”, símbolo do céu, e a comunhão desenrola-se no “gestroma”, um local entre a assembleia e o santuário, como sinal do paraíso.