Vaticano

Bispos do Paquistão denunciam perseguição religiosa

Octávio Carmo
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Os Bispos católicos no Paquistão pediram ao governo local a abolição da célebre “lei da blasfémia”, pune todos aqueles que pronunciam de modo ofensivo o nome do Profeta Maomé. O presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, D. Lawrence John Saldanha, considera que esta lei é usada para atacar adversários ou inimigos políticos, e que, em muitos casos os cristãos se tornam "bodes expiatórios". Para D. Saldanha, esta lei é "injusta e discriminatória" e é necessária a sua completa abolição. O arcebispo dirige os seus apelos às autoridades do país, também em nome da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal, há vários anos comprometida na defesa dos direitos humanos, das minorias, das mulheres e dos grupos marginalizados. O presidente da Conferência Episcopal paquistanesa assegura "a cooperação activa da Igreja Católica na construção de uma nação livre, democrática e pacífica”. A Lei sobre a blasfémia - secções 295 B e C do Código Penal paquistanês - foi introduzida em 1986. A secção 295B refere-se às ofensas ao Alcorão, punidas inclusivamente com prisão perpétua, enquanto que a secção 295C prevê a pena de morte ou prisão perpétua para “todos que, com palavras ou escritos, gestos ou representações visíveis, com insinuações directas ou indirectas, insultarem o sagrado nome do Profeta”. Desde a entrada em vigor da norma, dezenas de cristãos foram assassinados por terem “difamado” o Islão. Segundo dados da Comissão nacional Justiça e Paz da Conferência Episcopal do Paquistão, oficialmente há 560 pessoas acusadas de blasfémia no país desde 1987 a 2004. 30 ainda estão à espera de julgamento. O Paquistão é uma república islâmica e o Islão é a religião de Estado. Nos termos do artigo 41 da Constituição – suspensa após o golpe de 1998 – o Presidente da República tem de ser muçulmano. Embora o artigo 20 da Constituição de 1973 declare que todos os cidadãos têm liberdade de culto, profissão e divulgação e o artigo 36 afirme que o Estado salvaguarda os interesses e os direitos das minorias, a realidade é diferente. Os cristãos, embora não sejam perseguidos, são discriminados. Em 2003 verificaram-se numerosos episódios de intolerância religiosa. Grupos de fundamentalistas islâmicos foram responsáveis por homicídios, ameaças de morte, falsas acusações e ataques organizados contra lugares de culto e casas de fiéis de minorias. Os cristãos e os ahmadi – uma cisão muçulmana não reconhecida como tal – são os dois grupos religiosos mais vulneráveis. São frequentemente vítimas do aparelho judicial e são torturados e presos com o pretexto de terem violado o artigo 295 do Código Penal relativo ao referido crime de blasfémia.


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