Os bispos de Timor-Leste exigiram hoje a "imediata remoção" do primeiro-ministro Mari Alkatiri e a indigitação de um novo chefe de governo.
Em carta enviada a Francisco Guterres "Lu-Olo", presidente do Parlamento Nacional e do partido maioritário FRETILIN, os dois bispos, D. Alberto Ricardo da Silva (Díli) e D. Basílio do Nascimento (Baucau), justificam a exigência da demissão com "a actual situação social, económica e política".
Apelando ao Comité Central da FRETILIN e aos deputados para que tomem uma posição que leve à substituição do chefe do governo, os dois bispos salientam que "os cidadãos deste país não se sentem identificados com o modelo de sociedade que este governo quer impor", o qual consideram nada ter a ver com a realidade cultural, social e histórica dos timorenses.
"O profundo sentimento deste povo anónimo, que espontaneamente e em massa, aderiu, secundou e apoiou profundamente os protestos da Igreja Católica, leva-o a formular um pedido ao Partido FRETILIN, com maioria parlamentar, que decida a imediata remoção do actual primeiro-ministro e o seu governo, e indigite um novo primeiro-ministro, que imediatamente formará governo", sublinham.
A divulgação da carta foi feita no final de um encontro que juntou hoje no Palácio do Governo uma delegação da igreja com outra do governo, liderada pelo ministro da Saúde, Rui Araújo.
A tensão entre a Igreja e o poder político começou em Fevereiro após a decisão do Governo de tornar a educação religiosa numa disciplina facultativa no ensino público. Milhares de pessoas manifestaram-se na passada terça-feira contra esta decisão. Mais de 5 mil pessoas pediram a demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri, diante do palácio do Governo.
Os manifestantes saíram do Paço Episcopal de Díli trazendo à sua frente uma imagem de Nossa Senhora e cartazes com as frases "O povo não quer o ditador Alkatiri" e "Queremos democracia na prática".
O bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva, caracterizou a iniciativa como um "protesto em massa contra o regime anti-democrático imposto pelo governo Alkatiri", sublinhando que a acção de protesto "é mais do que uma manifestação religiosa”.
Para além da questão das aulas de Religião, os responsáveis eclesiais criticam o tratamento dado aos autores dos crimes cometidos durante o referendo para a independência de Timor-Leste, em 1999.