Cabinda: Igreja denuncia crimes contra a humanidade Paulo Aido 06 de Novembro de 2003, às 12:09 ... Padres católicos testemunham crimes contra a humanidade perpetrados por militares angolanos contra as populações civis em Cabinda. Os relatos dão conta da existência de torturas, violações e assassinatos, espancamentos e outros abusos por militares angolanos no enclave de Cabinda nos últimos 12 meses. A denúncia faz parte de um relatório divulgado esta semana, por activistas dos direitos humanos, citados pelo jornalista Justin Pearce, correspondente da BBC em Luanda num trabalho publicado em Lisboa para o jornal “Públicoâ€. Nesse artigo, Pearce afirma que o relatório apela “à comunidade internacional†para que se ponha fim ao “silêncio sobre a continuação do conflito e dos abusos sistemáticos dos direitos humanos em Cabindaâ€. Esta denúncia acontece precisamente na mesma altura em que a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre – instituição da Igreja Católica dependente directamente da Santa Sé – acaba de lançar em Lisboa uma “campanha de apoio a Angola†intitulada “a indiferença é um crime!â€, em que se denunciam, também, os atropelos aos direitos humanos no território angolano de Cabinda. A Campanha da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre pretende contribuir com a recolha de fundos para a formação de sacerdotes e seminaristas em Angola, por se constatar que “a Igreja é a única instituição credÃvel para a promoção da paz e a reconciliação em Cabinda e em Angolaâ€. Assinada por Paulo Bernardino, presidente do Conselho de Administração da Fundação, a carta enviada a milhares de benfeitores da instituição em Portugal, dá conta, também, de “represálias violentas contra as aldeias (…) execuções sumárias, espancamentos e torturas, destruições de casas e pilhagens de bens dos aldeõesâ€. Paulo Bernardino afirma que “os crimes parecem ser executados de forma deliberada e com a cumplicidade do Governo. De Cabinda, chegam-nos apelos lancinantes. Tão grave quanto o horror por que passam estas populações, é o drama de se saberem quase abandonadas à sua sorteâ€. Os relatos de Justin Pearce apontam no mesmo sentido da campanha “a indiferença é um crime!†da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. No trabalho editado na segunda-feira, dia 3 de Novembro, o jornalista da BBC reafirma, no jornal “Públicoâ€, as denúncias dos padres de Cabinda: “Entre as ofensas referidas no relatório estão: ‘assassinato; tortura e espancamento; abusos sexuais, que mais atingem meninas de tenra idade; 'união marital' forçada, contra a vontade das mulheres; detenções extrajudiciais; roubo de dinheiro e outros bens da população; proibição e intimidação de civis na realização das suas actividades essenciais de subsistência como agricultura, pesca e caça; o uso forçado de civis como 'guias', durante as operações militares’â€. O jornalista refere ainda o bispo de Cabinda, igualmente citado no relatório, onde D. Paulino Madeca dá conta de que, “infelizmente, a situação polÃtica no enclave evoluiu negativamente nos últimos anosâ€. O prelado diz ainda que “a lógica da guerra predomina como solução do chamado 'caso Cabinda'â€, acrescentando que terá feito, inclusivamente, “várias diligências junto das autoridades polÃticas angolanas até ao mais alto nÃvel e junto dos lÃderes da FLEC, (o movimento armado que luta pela independência do enclave de Cabinda) denunciando a insensatez desta guerra e o rosário de sofrimentos sem conta que vai deixando junto das populações. Em vão. Os resultados dessa ofensiva estão à vista de todos e resumem-se numa expressão: violação sistemática dos direitos humanos e crimes contra a humanidade, conforme os casos apurados no presente relatórioâ€. Para se compreender a situação de Cabinda, é preciso recuar até 1885, altura em que o território passou a ser um protectorado português através do tratado de Simulambuco. É na reivindicação desse estatuto especial, que os movimentos de libertação existentes no território têm mantido um conflito aberto com as autoridades de Luanda. Angola, por sua vez, considera Cabinda com território seu e não reconhece legitimidade histórica à quele documento, apesar de já ter admitido a possibilidade de uma eventual solução autonómica no quadro da soberania angolana. Cabinda, como é também referido na Campanha da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, é extremamente rica em reservas petrolÃferas, produzindo cerca de 700 mil barris de petróleo bruto por dia, ou seja, cerca de “dois terços das receitas totais do Estado Angolanoâ€. 06 de Novembro de 2003 – Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre Paulo Aido Ãfrica Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...