Depois de um pedido de ajuda à comunidade internacional, o Arcebispo de Cartum apelou ao seu país que acreditasse na paz.
O Cardeal sudanês Gabriel Zubeir Wako apareceu na televisão num apelo desesperado para que termine a violência que devasta a capital, Cartum. Expressando-se em árabe na televisão sudanesa, o Arcebispo de Cartum condenou os distúrbios que levaram à morte mais de 130 pessoas.
A violência imperou nas ruas durante os três dias que se seguiram à morte de John Garang, vítima de um acidente de helicóptero, três semanas depois de ser nomeado Vice Presidente do Sudão.
Na sua mensagem, retransmitida várias vezes durante a semana passada, o Cardeal disse: "Irmão, irmã, larga essa faca, esse pau, essa lança e essa arma. Pára de fomentar o ódio e a discórdia entre as pessoas. Porque matas? Porque ameaças o teu irmão e a tua irmã? Porque espalhas o medo? O que é que ganhas com a violência?"
E continuou: "Nasceu um novo Sudão. Diz adeus à violência e acolhe a paz… Convida toda a gente a rezar a Deus para que pela Sua misericórdia e compaixão, ponha um fim à tragédia que nos envolve."
Este apelo televisivo do Cardeal Zubeir aconteceu alguns dias depois de ter pedido à Ajuda Igreja que Sofre, "Por favor, rezem por nós!"
O Cardeal falou para todo o Sudão, e em plena crise pediu misericórdia para com os cristãos perseguidos e empobrecidos. "Ninguém está seguro na sua própria casa. As pessoas são arrancadas dos transportes públicos e assassinadas. Este tipo de situações acontece nos subúrbios da cidade. Bandos organizados provenientes do norte do Sudão forçam a entrada nas casas, em busca de pessoas provenientes do sul para as espancar e matar."
Chegaram outros relatos de violência à Ajuda à Igreja que Sofre pelo reitor do Seminário Maior de S. Paulo em Cartum, Pe John Dingi Martino.
"Mercadores árabes começaram a atacar pessoas do sul ou quem quer que fosse negro com facas, barras de ferro e até disparando armas de fogo. Várias pessoas foram feridas ou mortas".
Apesar dos sinais de uma renovada acalmia, há preocupações quanto à continuação do processo de paz a longo prazo, que culminou quando John Garand conduziu a mais importante facção rebelde no sul do país, a um histórico tratado de paz com o governo muçulmano de Cartum.
O acordo, assinado no dia 9 de Janeiro, terminou com mais de duas décadas de guerra civil e trouxe a promessa de uma partilha do poder entre o governo e a força rebelde de Garang, o Exército/Movimento de Libertação do Povo Sudanês (SPLA/M).
Segundo os termos do tratado de paz, as pessoas do sul do Sudão terão a opção de votar pela independência num referendo a ter lugar num período de 6 anos.
Apesar da concordância generalizada de que foi um acidente, a morte do vice-presidente Garang provocou escaramuças em Cartum entre sudaneses do norte, liderados por árabes muçulmanos, e sudaneses do sul, maioritariamente cristãos e animistas.
Milhões de sudaneses têm vivido em campos de deslocados nos subúrbios de Cartum, tendo fugido do sul durante a guerra que ceifou pelo menos 2 milhões de vidas.
Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre