Ciência no ecrã Francisco Perestrello 17 de Janeiro de 2006, às 12:58 ... Há filmes que passam totalmente despercebidos da generalidade do público mas que, mesmo que nem sempre tenham a mais alta qualidade técnica, têm no seu tema um interesse que não pode ser desprezado. É este o caso de "Primer", uma obra menor que poucos terão a oportunidade ou a coragem de ver. O filme tem por principal dificuldade a densa linguagem técnica que preenche os seus diálogos, mas que tem a particularidade de, mesmo sendo de ficção cientÃfica, manter uma coerência notável na terminologia e nos acontecimentos narrados. A evidente impossibilidade de dominar o tempo, excepto por via de H.G. Wells, acaba por passar um pouco à margem da narrativa central, sendo referida como uma consequência de outra investigação utópica, a do moto-contÃnuo. Uma vez informado que vai ver um filme de linguagem puramente técnica, o espectador, se preparado para tal, tem oportunidade de tirar partido das voltas e reviravoltas dos dois cientistas capazes de mudar o mundo, sentindo o humor subjacente aos resultados obtidos por uma experiência totalmente fictÃcia e como tal apresentada. O filme mostra, por outro lado, como o entusiasmo pode levar uma pequena equipa a realizar um filme interessante, mesmo que para tal praticamente não disponha de orçamento. "Primer" foi realizado com 7 000 dólares, em pelÃcula de 16 mm, e só depois ampliado para os 35 mm do cinema comercial. Com este valor certamente que toda a equipa trabalhou por gosto, sem direito a remuneração, tendo o autor do filme, Shane Carruth, tomado a seu cargo o desempenho do principal papel e a responsabilidade da quase totalidade dos lugares técnicos mais essenciais. Mesmo que estreado com uma divulgação limitada ao último grau é importante que não passe despercebida a existência deste filme, difÃcil, é certo, mas que chama a atenção para vertentes poucas vezes abordadas em cinema com tanto equilÃbrio temático. Francisco Perestrello Cinema Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...