Vaticano

Cinema: a Índia vista pelo Ocidente

Francisco Perestrello
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Se a escassez de cinema indiano em Portugal não nos permite um contacto válido com a cultura deste país, as produções ocidentais têm vindo, por vezes, a colmatar esta carência. É o caso de "Darjeeling Limited", em que um cineasta mediano - Wes Anderson - ultrapassa a sua inspiração anterior para nos dar um retrato vivo de diversos costumes da Índia, através da viagem de três irmãos que atravessam o país para visitar sua mãe, recolhida num convento. Se o filme tem uma forte componente de comédia, mercê dos três excelentes principais actores - Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman - não deixa de ser dominado pela componente dramática em que se procura a reconciliação total de três irmãos no que respeita a pequenas questiúnculas arrastadas desde a morte do pai, ocorrida um ano antes. Wes Anderson atinge um equilíbrio notável entre a definição da personalidade de cada um dos três protagonistas, dos seus confrontos, e do meio indiano em que tudo se passa, recorrendo aos mais diversos pretextos para nos mostrar de uma forma incisiva as diferenças de cultura entre os povos. As paisagens, o povo e, sobretudo, o pormenor com que descreve alguns acontecimentos, permitem-nos ver com precisão como se vive e como se pensa num país tão distante como a Índia. O contacto com o Ocidente fica reduzido a um flash back relativamente breve, mas que permite reforçar o contraste de comportamento e culturas. A própria modificação das fisionomias num contexto diverso contribui para um reforço directo da alteração do ambiente e para o aproveitamento para apontamentos de humor muito bem conseguidos. O filme é acompanhado de uma curta metragem - "Hotel Chevalier" - que constitui uma introdução ao tema e que bem poderia fazer parte do corpo principal do filme. É uma curta que, em si mesma, tem pouco significado, mas que também não chega a fazer verdadeiramente falta à narrativa principal. Francisco Perestrello


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