Cinema: Europa e migração

Enquanto a nossa boa e velha Europa é diariamente assolada por notícias trágicas de emigrantes que dão o possível e o impensável para, em condições chocantes, aqui chegarem, do cinema surgem-nos dois belos estímulos à reflexão sobre a matéria.

“Welcome – Bem-vindo” e “O Paraíso a Oeste” constituem, cada um por si, riqueza suficiente como conto ou relato de uma história de migração, porém, essa riqueza aumenta na diferença de abordagens a que, um em relação a outro, os filmes são sujeitos: para uma mesma história de um imigrante ilegal em França, Philippe Lioret dá-nos em “Welcome – Bem-vindo” um olhar mais ingénuo e amador sobre um rapaz de origem curda que coloca todas as suas expectativas de vida na possibilidade de chegar à margem britânica do Canal da Mancha.

Costa-Gravas, por sua vez, empresta a Elias, o homem que percorre França à espera de encontrar em Paris o “Paraíso a Oeste”, o seu estilo apurado, a sua direcção experiente e tecnicamente sábia, utilizando com destreza a simbologia visual, entrecruzando referências de origens tão próximas ou distintas como o imaginário e o real, o belo e o grotesco.

As diferenças entre ambos não se ficam por aqui e o modo como cada um dos filmes dá à nossa costa é, ainda, curioso e assinalável: “Welcome – Bem-vindo” chega por via comercial e já está nalguns ecrãs nacionais pela mão da Atalanta – a pequena distribuidora nacional que desde há muito mais se tem fidelizado à vertente cultural do cinema. “O Paraíso a Oeste” chega por via cultural, com a Festa do Cinema Francês, mas tem já prometida amplificação pela maior distribuidora comercial do nosso país, a Zon Lusomundo.

Entre as distinções, que dizem do conteúdo dos filmes o que dizem do cinema em Portugal, os elos comuns mais fortes serão a persistência com que dois homens em circunstâncias adversas concorrem para os seus objectivos e a importância que os laços entretanto criados têm para que os alcancem, sem perder a identidade.

Margarida Ataíde