Actor com intervenção em dezenas de filmes e realizador de perto de uma trintena, Jiri Menzel tem sido uma peça fundamental do cinema checoslovaco, tanto enquanto os dois países se mantiveram unidos como agora, recorrendo ao processo de co-produção. Até à data apenas um dos seus filmes, «Comboios Rigorosamente Vigiados», teve estreia em Portugal em sala de projecção, enquanto mais dois foram divulgados, um em DVD, outro na televisão.
O citado «Comboios Rigorosamente Vigiados» foi a obra que deu a Menzel grande projecção no mercado ocidental, depois de premiado com o Óscar do Melhor Filme em Língua Estrangeira, em 1968.
A sua obra mais recente, que irá agora estrear em Portugal, é «Eu Servi o Rei de Inglaterra». Partindo de um tom de comédia o filme fundamenta-se numa narrativa em voz “off”, descrevendo o percurso de um checo franzino e de pequena estatura, mas ambicioso e destituído de escrúpulos. Mas este acaba por ser o pretexto para percorrer a História da República Checa desde antes da sua fusão com a Eslováquia até tempos mais recentes, passando pela ocupação pelas tropas nazis e pela implantação do regime comunista. Jiri Menzel, com uma forma de expressão extremamente livre, narra com imagens muito evidentes as diferentes fases da degradação de costumes, nomeadamente no decurso das tentativas de apuramento da raça ariana, tal como foi idealizada pelo regime nazi. Mesmo considerando que nem todos se sentirão à vontade com tais imagens, o filme tem uma excelente estrutura narrativa, misturando um humor discreto e eficiente com as consequências dramáticas que diferentes opções políticas trouxeram ao mundo, sendo, cinematograficamente, uma obra brilhante e acessível.
É uma raridade a chegada a Portugal do cinema do Leste europeu. Esta é uma oportunidade para conhecer o estilo e a forma, a eficiência do realizador e actores, num filme checo e eslovaco, da autoria de um autor que, até hoje, ainda não foi tentado pela conversão ao dólar e respectiva emigração para Hollywood.
Francisco Perestrello