Vaticano

Cinema: O Moderno Desenho Animado

Francisco Perestrello
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É frequente conotar os filmes de desenhos animados com as crianças, a que, de uma forma geral, este se dirige. Walt Disney e os que lhe sucederam na sua produtora são muito responsáveis por tal ligação, uma vez que ao longo de muitos anos foram os únicos com grande projecção nesta difícil arte e sempre com obras destinadas à crianças. Bem mais tarde, sobretudo a partir de países do Leste europeu, novas correntes cinematográficas na área do desenho mostraram a possibilidade de alterar o público-alvo para a idade adulta. Desenhos estilizados, temas muito para além dos contos de fadas, obras com conteúdo social, transferiram para o cinema o que se já antes se fazia na banda desenhada. Dentro deste alargamento vai chegar em breve aos cinemas portugueses uma obra israelita. Embora com co-produção europeia é marcadamente um trabalho referente a Israel e aí produzido, narrando em desenhos os massacres ocorridos no Líbano, em Sabra e Chatila, e denunciando a cumplicidade das tropas israelitas, que cercaram os campos de refugiados para permitir a matança que veio a ocorrer. Em desenhos vemos os principais políticos da época, facilmente reconhecíveis a darem a sua cobertura aos acontecimentos, seja de forma activa seja passiva. O realizador, Ari Folman, foi tão longe quanto lhe pareceu possível, conseguindo um retrato realista, por vezes de muita crueza, com o recurso de uma mistura de desenho puro, desenho sobre cenários reais e pequenas sequências inteiramente em imagem real. Uma composição nada fácil de imagens de diferente tipo que conta com uma ligação perfeita e um resultado estético notável. É importante o bom resultado na forma estética para dar força à mensagem humana, contra a guerra, contra a opressão dos direitos humanos, concretamente denunciando os massacres de Sabra e Chatila que se tornam progressivamente o fulcro da narrativa. Francisco Perestrello


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