Vaticano

Cinema: Viagem através da América

Francisco Perestrello
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Longe do tempo em que os "road movies" estavam na moda "O Lado Selvagem" retoma essa mesma tradição, agora que os recursos técnicos permitem um trabalho mais perfeito. Sean Penn, argumentista e realizador, descreve a odisseia de Christopher McCandless que, licenciado em 1992 pela Universidade de Emory, preferiu desprezar a oportunidade de seguir uma carreira segura encetando uma longa viagem com o objectivo de chegar ao Alasca. O mais interessante do filme é a forma como o protagonista - um papel a cargo de Emile Hirsch - vai conhecendo o seu próprio país e, sobretudo, o seu povo, com os caracteres mais diversos, num contacto que complementa a sua formação. Radicalmente inimigo da submissão do homem ao conceito de enriquecimento como principal objectivo da vida, a própria função do dinheiro vai ficando, pouco a pouco, clara no seu espírito. Também o papel e limitações dos pais, com quem sempre manteve sérios conflitos, se vão esbatendo no que se refere aos defeitos e consolidando no que respeita à força dos laços familiares, de sangue ou afectivos, que as circunstâncias da vida e sua aventura fatal impedem de voltar a concretizar. Apoiado por um excelente director de fotografia, Eric Gautier, o realizador tira o melhor partido de paisagens abertas de diversas regiões dos Estados Unidos, muito diferentes de ponto para ponto do mapa, mas sempre com algo de interessante ou marcadas pela beleza para justificar a sua apresentação. O filme baseia-se num caso real, mas é a forma como os acontecimentos são trabalhados que lhe dão a necessária consistência cinematográfica, apresentando-se mais sob a vertente do drama que sob a biográfica. Uma vez mais o cinema americano mostra que, com alguma frequência, consegue libertar-se das simples produções standard revelando então a originalidade e o talento dos seus melhores cineastas. Francisco Perestrello


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