ONU diz que não tolerará violência na campanha eleitoral
"A situação é calma, mas o clima é tenso", referiram ontem fontes da Igreja guineense em declarações à agência Fides. Os acontecimentos da semana passada em Bissau não foram ainda totalmente esclarecidos.
Existem receios de novos confrontos e tumultos com o arranque da campanha eleitoral para a Presidência. As eleições estão marcadas para dia 17 de Junho.
Na passada quarta-feira, apoiantes armados de Kumba Ialá, terão tentado ocupar, sem sucesso, o Palácio Presidencial. "Esta incursão deve ter acontecido de facto, uma vez que foi confirmada por muitas testemunhas credíveis. É preocupante, porque prova que o antigo Presidente tem apoiantes no exército, pelo menos entre as patentes mais baixas", explicaram as mesmas fontes que quiseram manter o anonimato.
No mesmo dia registou-se uma troca de tiros entre elementos da polícia e apoiantes de Kumba Ialá, junto à casa do antigo chefe de Estado, que foi apedrejada por jovens manifestantes que saíram à rua depois de ter sido conhecida a tentativa de golpe de Estado. Um grupo de jovens vandalizou os escritórios do partido que apoia a candidatura de Kumba Ialá (o PRS), causando muitos estragos.
O PRS pediu, entretanto, o adiamento das eleições por não estarem reunidas condições para a sua realização.
O Procurador-Geral da República, Octávio Lopes, ordenou a abertura de um inquérito criminal a Kumba Ialá na sequência da sua auto-proclamação como Presidente da República e da alegada ocupação do Palácio da Presidência.
Na Guiné-Bissau teme-se a divisão do país entre os que apoiam Kumba Ialá e os apoiantes de outro dos candidatos às eleições presidenciais, João "Nino" Vieira, que regressou recentemente à Guiné-Bissau após um longo exílio em Portugal. Segundo informações recolhidas pela agência Fides, "Nino" Vieira conta com o apoio de países estrangeiros, como a Guiné-Conacri.
Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que SofreONU avisa
A comunidade internacional não tolerará provocações durante o processo eleitoral na Guiné-Bissau, advertiu hoje o enviado das Nações Unidas para a África Ocidental, Ahmedou Ould-Abdallah.
Numa nota divulgada na sede da ONU em Nova Iorque, Ould-Abdallah "observou com satisfação" que as autoridades da Guiné-Bissau decidiram continuar com as eleições presidenciais a 19 de Junho como previsto.
O enviado da ONU - refere a nota - "sente-se particularmente encorajado pelas declarações dos líderes militares do país que as forças armadas permanecerão politicamente neutras, respeitarão o primado da lei e as instituições democráticas e vão observar estritamente o princípio de subordinação às autoridades civis".
Ould-Abdallah saúda o povo da Guiné-Bissau "em particular organizações da sociedade civil e outras pessoas com influência" pela "determinação em defender as suas liberdades" e por trabalharem para assegurar a organização de eleições credíveis, pacíficas e transparentes.
Avisou, no entanto, que a comunidade internacional "não tolerará qualquer tentativa para aumentar a tensão ou incitar à violência durante o período eleitoral".