A Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST) condenou hoje, em Luanda, a onda de contestação de que tem sido alvo D. Filomeno Vieira Dias, o novo bispo nomeado por João Paulo II para a Diocese de Cabinda.
"Lamentamos profundamente a atitude inesperada e estranha dos nossos irmãos de Cabinda de recusarem a nomeação feita pelo Santo Padre para prover de um pastor próprio esta diocese irmã", refere o comunicado emitido no final da assembleia plenária da CEAST, que hoje terminou na capital angolana.
A reunião da CEAST não contou com a presença de D. Paulino Madeca, o anterior bispo de Cabinda, por motivos de doença. “Neste momento, sentimos a ausência de D. Paulino no nosso primeiro encontro anual de Pastores, enquanto garantes da unidade da Igreja, mas não sentimos menos o Calvário que está a atravessar”, referem os membros da CEAST. O comunicado foi apresentado aos jornalistas pelo bispo do Sumbe, D. Benedito Roberto.
A contestação de que tem sido alvo o novo bispo de Cabinda envolve fiéis e parte do clero local. A CEAST assinala que não é este o melhor modo de proceder e que "a violência, mesmo verbal, não é o caminho para chegar ao coração do outro nem a solução para lhe conquistar o íntimo".
“Não é nossa competência dizer que solução dar ao caso de Cabinda. Mas é competência nossa dizer que a guerra não deve ser solução nem caminho para chegar a ela”, prosseguem.
A CEAST lembra que a nomeação dos Bispos é da responsabilidade do Papa e afirma que "é normal que o bispo de qualquer diocese seja oriundo de uma diocese diferente", acrescentando que, das 17 dioceses que integram a CEAST, 14 são lideradas por bispos naturais de outras dioceses.
Os prelados lembram que o organismo eclesial “sempre apelou ao diálogo como via segura de dirimir conflitos”, mesmo nas horas mais difíceis e lamenta que “círculos alheios à fé cristã e católica queiram instrumentalizar e subordinar à política a própria autoridade da Santo Padre, Sucessor de Pedro”.
Comunicado da CEAST
Neste momento, sentimos a ausência de D. Paulino no nosso primeiro encontro anual de Pastores, enquanto garantes da unidade da Igreja, mas não sentimos menos o Calvário que está a atravessar. Acompanhamo-lo com nossa fraterna solidariedade e nossa oração.
Quanto ao problema de Cabinda, certamente todos recordam o que dissemos há um ano, na nossa mensagem pastoral de Março de 2004 ao falar da “Nossa Esperança de Paz e Cabinda”: - “Não é nossa competência dizer que solução dar ao caso de Cabinda. Mas é competência nossa dizer que a guerra não deve ser solução nem caminho para chegar a ela”. (Angola no Caminho da Esperança nº 6).
Também hoje dizemos que a violência, mesmo verbal, não é caminho para chegar ao coração do outro (concórdia) nem solução para lhe conquistar o íntimo (confiança). Como Igreja, pautamos o nosso ser e agir em ser sinal da íntima união do homem com Deus e da união dos homens entre si, sem jamais perder de vista esta natureza e missão universal da Igreja, da qual Cristo é Cabeça e nós, não só membros seus mas também membros uns dos outros.
É neste contexto de Igreja que lamentamos profundamente a atitude inesperada e estranha dos nossos irmãos de Cabinda em recusarem a nomeação feita pelo Santo Padre ao prover de Pastor próprio esta Diocese irmã. Ao Santo Padre compete a inteira responsabilidade de criar novas Dioceses e de nomear para elas os seus Pastores. É normal na Igreja que o Bispo de qualquer Diocese seja oriundo duma Diocese diferente. Dos 17 Bispos que têm pastoreado as 17 Dioceses de Angola e S. Tomé, 14 são oriundos de Dioceses diferentes.
Não menos grave é que círculos alheios à fé cristã e católica queiram instrumentalizar e subordinar à política a própria autoridade da Santo Padre, Sucessor de Pedro.
A CEAST, que nas horas difíceis da nossa história sempre apelou ao diálogo como via segura de dirimir conflitos, lembra nesta hora a palavra que escutou do Santo Padre, em Outubro passado, a quando da Visita ad Limina Apostolorum: “A todos recordo que a violência não é capaz de resolver os problemas da humanidade, nem ajuda a superar os contrastes. É preciso ter a coragem do diálogo. Estou persuadido de que o esforço e a boa vontade das partes envolvidas nas questões em aberto podem ajudar a construir uma cultura de respeito e de dignidade” (disc. nº 3).””
Luanda, 11 de Março de 2005,
Os Bispos da CEAST