Vaticano

Crise financeira e religiosa

Lígia Silveira
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A crise constitucional que ocorreu após o referendo Irlandês em Junho, o conflito entre a Rússia e a Geórgia, a “dramática crise financeiraâ€, cujas consequências económicas, socais e políticas “apenas podemos antecipar algumas consideraçõesâ€, foram referidas como “sérias preocupaçõesâ€, pelo Presidente da Comissão das Conferência Episcopais da União Europeia – COMECE, D. Adrianus Van Luyn. No início da Assembleia plenária do Outono, em Bruxelas, o Presidente antecipou alguns temas que estarão em reflexão no encontro que definiu como “Desafios actuais para a Europaâ€. Na agenda dos bispos consta ainda o dossier sobre as alterações climáticas e o estilo de vida dos cristãos, a directiva do parlamento Europeu sobre o trabalho ao Domingo, os refugiados cristãos no mundo e as parecerias entre a UE e a Rússia após o conflito na Geórgia. As palavras de abertura do Presidente da COMECE incidiram na crise financeira. “Uma crise que é acima de tudo, uma crise de confiança. “Como podemos confiar nos fundamentos da economia e do sistema social que foi tão dramaticamente interrompido?â€, questionou, indicando a necessidade de “melhores regras e leis†e melhores especialistas, tanto a nível europeu como mundial, “para prevenir que a situação dos sistemas financeiros, globalmente ligados, se agrave maisâ€. O Presidente da COMECE abordou igualmente o encontro dos chefes de Estado e do Governo do G20 – regulação fiscal, modernização do Fundo Monetário Internacional – pedindo uma análise profunda. “É o nosso modelo social que está em questãoâ€. As causas profundas da crise financeira assentam num jogo desorganizado de valoresâ€, indicou, acrescentando que “a crise financeira expôs uma crise espiritual e uma hierarquia de valores distorcidaâ€. O Presidente considerou ainda que o sentido e o valor do trabalho humano “foi posto de lado em deterimento da intensa luta pelo lucro†e “as pessoas e o planeta estão, em última análise, apenas à procura do que é funcionalâ€. O encontro do G20, em Nova Iorque “não irá dar nenhuma resposta às questões, pois ultrapassam o domínio da políticaâ€. “Mas precisamos de respostas, as respostas são aguardadas e os media esperam respostas de quem consideram ser a autoridadeâ€. O Presidente da COMECE incluiu também “os bispos, pois tanto bispos como cristãos, toda a Igreja tem de ser mais zelosa e criativa para tornar a fé mais acessívelâ€. D. Van Luyn, recordando o Sínodo dos Bispos, manifestou a sua alegria por se ter decidido “investir na comunicação e no desenvolvimento de competências próprias para educar os jovensâ€. O Bispo considerou que “temos de viver a nossa vida através de exemplos consistentesâ€. E por isso indicou que, “talvez aqui as nossas fraquezas sejam também mais sentidasâ€. O Presidente da COMECE reconheceu que “não é apenas o sistema financeiro que «está no vermelho», mas também o nosso equilíbrio religioso está a sair do controlo quando o mundo é apanhado numa profunda crise social e económicaâ€. Assim, a crise financeira “deveria levar-nos a questionarmos porque é que não há mais pessoas a reconhecer na mensagem cristã a chave para uma vida mais moderada, mais feliz?â€, questionou. “O que poderemos fazer para tornar a nossa fé mais compreensível e de forma mais credível?â€. Esta será a questão a analisar nos próximos dias do encontro entre os Bispos da União Europeia.


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