Em entrevista exclusiva à Ajuda à Igreja que Sofre, D. Andreas Abouna disse ter expressado ao Cardeal Cormac O’Connor a sua preocupação pela actual situação político-religiosa no Iraque, uma vez que o país corre o risco de se tornar num Estado islâmico que poderá vir a discriminar todos os grupos religiosos não-muçulmanos.
O Bispo Auxiliar de Bagdade sublinhou que os cristãos iraquianos receberam informações que os muçulmanos xiitas (o maior grupo religioso iraquiano) estão a fazer pressão política para que a nova Constituição, que irá ser debatida na Assembleia Nacional a partir de Agosto, seja baseada na lei islâmica (sharia).
O Bispo Auxiliar de Bagdade está no Reino Unido para se encontrar com o Arcebispo de Westminster. D. Andreas Abouna irá entregar ao Cardeal O’Connor uma carta assinada pelos líderes de nove denominações cristãs, que lançam um apelo desesperado para que a futura Constituição não discrimine os não-muçulmanos. Os prelados iraquianos vão pedir também a intervenção de Kofi Annan.
Os líderes das denominações cristãs iraquianas (caldeia, greco-católica, arménia, síria, melquita, assíria, protestante e arménia) temem que os seus fiéis venham a ser perseguidos e discriminados, tal como acontece noutros países onde a sharia foi imposta, como o Sudão ou a Nigéria. D. Andreas Abouna considera que a aprovação de uma Constituição “pró-islâmica” virá contribuir para intensificar o êxodo dos cristãos, levando ao desaparecimento total da presença cristã no Iraque, que remonta aos primeiros séculos do cristianismo.
O prelado sublinha esta união sem precedentes entre as várias denominações cristãs: “Se não agirmos juntos, iremos perder”. Na declaração conjunta que será envida à Assembleia Nacional e ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, sublinha-se o princípio que “nenhuma religião deve dominar sobre outra”.
“Caso se avance para uma confirmação do papel da religião islâmica na sociedade iraquiana, então é natural que se confirme também o papel de outras religiões que estão historicamente estabelecidas no Iraque. Pedimos apenas... igualdade, liberdade e oportunidades equitativas e que se acautele a discriminação racial e religiosa”,
Os líderes cristãos iraquianos receiam estar a correr contra o tempo, uma vez que no dia 15 de Agosto termina o prazo para a apresentação da proposta de alteração constitucional. Esta proposta será depois debatida na Assembleia Nacional Iraquiana, onde os xiitas estão em maioria, e irá ser preparada por uma sub-comissão parlamentar, prevendo-se que venha ainda a ser referendada antes de ser ratificada.
A actual Constituição provisória, aprovada em Junho de 2004, deixou de lado a sharia, salvaguardando que o seu papel na legislação iraquiana seria decidido posteriormente.
Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre