Vaticano

Debater a paz e a tolerância entre posições radicais

Lígia Silveira
...

Termina esta Quinta-feira, a Conferência para o diálogo entre fé e culturas, em Nova Iorque

Decorre em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, a Conferência para o diálogo entre fé e culturas. Um encontro convocado pelo Rei Abdullah, da Arábia Saudita, criticado por querer falar de tolerância religiosa e não permitir actos de liberdade religiosa no seu país. “Este é um encontro para falar de valores comuns em diferentes culturas”. Foi assim que o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, quis centrar o encontro. Miguel D’Escoto afirmou, no discurso de abertura que “este não é um encontro sobre religião. Estamos aqui para falar sobre valores comuns que podem ajudar na tomada de decisões internacionais e ajudar o mundo a recuperar da crise que enfrenta”, apontou o Presidente, referindo as alterações climáticas, os conflitos no mundo e a crise económica global. No discurso de abertura, o presidente Miguel D’Escoto, padre católico a favor da teologia da libertação e membro do Conselho Ecuménico das Igrejas, afirmou a importância da solidariedade “para guiar a actividade humana” e indicou que a moral e a ética “têm de assumir um papel central na vida das pessoas”. “A responsabilidade social deve ser um princípio base de todas as religiões do mundo e de todas as tradições filosóficas, nós é que nos deixamos contaminar pelo egoísmo e individualismo, valores principais e anti-valores da cultura dominante”. Também o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, havia já manifestado o seu “total apoio” a esta iniciativa que, frisou, “pode ajudar a combater os preconceitos, ódios e extremismos”. A Casa Branca afirmou que o Rei Abdullah, da Arábia Saudita, convocou uma conferência sobre tolerância religiosa, sabendo que o seu país não é exemplo nesta área. Esta posição foi tomada pela porta-voz da Casa Branca, quando questionado por jornalistas. O Presidente George W. Bush vai participar hoje, o último dia da Conferência, que reuniu 70 chefes de Estado e do Governo. “O Presidente, por diversas vezes, teve ocasião de manifestar algumas preocupações ao Rei Abdullah, sobre a liberdade de expressão, os direitos das mulheres e outras relativas à democracia, e assim vai continuar a ser”, afirmou o porta-voz do departamento de Estado, Robert Wood. O Presidente americano, no seu discurso aos participantes “irá afirmar o seu compromisso com a liberdade religiosa e a tolerância”, confirmou. No final deverá encetar encontros bilaterais com o Rei Abdullah. A Arábia Saudita é uma monarquia conservadora, rigorosa, que não permite a prática pública de outras religiões que não o Islão. Também presente na Conferência, está Shimon Peres, o presidente israelita, que saudou a iniciativa do Rei Abdullah de promover o diálogo interreligioso como meio de promover a paz, considerando ter dado um “novo tom” à política do Médio Oriente. “Estamos a assistir não ao fim da história, mas ao começo de uma nova história”, afirmou. “O facto desta conferência ser o resultado de uma iniciativa dos sauditas, não tem precedentes”, sublinhou o chefe de estado israelita, país que não tem relações diplomáticas com a Arábia Saudita. Referindo-se aos discursos de Quarta-feira, Shimon Peres destacou que “hoje se ouviram diferentes vozes, uma voz de amizade, de compreensão, assim como a ideia de que este é o momento para experimentar a paz global no Médio Oriente”. “Concordo com muitos especialistas que afirma que se continuarmos com as negociações com os palestinianos, conseguiremos chegar à paz”. O encontro termina esta Quinta-feira.


Diálogo inter-religioso