Vaticano

Deus caritas est: a primeira encíclica de Bento XVI

Voz Portucalense
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A Encíclica de Bento XVI, Deus caritas est (“Deus é amor”), será divulgada no âmbito do Oitavário de Oração pela Unidade. Terão assim passado nove meses desde o início do pontificado, o tempo que João XXIII (1958-1963) empregou para a publicação da sua Encíclica programática Ad Petri cathedram (29/6/59). Um texto que exprimia já toda a dinâmica de renovação que o Papa Roncali imprimiria à Igreja e mesmo à sociedade do seu tempo: verdade, unidade, concórdia e paz eram os temas sublinhados, como linhas de força para o Concílio Ecuménico que anunciara logo a três meses da sua eleição, precisamente a 25 de Janeiro, na basílica de São Paulo fora de Muros, sublinhando o seu empenho a favor da unidade de todos os cristãos. Dos oito papas do século XX, foi Paulo VI (1963-1977) que mais tempo dedicou à preparação da sua primeira Encíclica, publicada mais de um ano após a eleição. Um “atraso” perfeitamente explicável pela sobrecarga de trabalho que o Concílio em curso requeria do pontífice e pela densidade e originalidade do texto produzido, desenvolvendo três “caminhos da Igreja: consciência, renovação, diálogo”. Ecclesiam suam tem a data de 6 de Agosto de 1964, festa da Transfiguração do Senhor (dia da sua morte, em Castel Gandolfo, catorze anos depois). Na audiência geral da quarta-feira 5 de Agosto, naquela residência de Verão, o próprio Paulo VI apresentou a Encíclica em jeito de “conferência de imprensa” (palavras suas), num estilo directo de grande eficácia comunicativa. É bem conhecida a influência que este texto maior teve no curso do próprio Concílio e na vida da Igreja, chamada a tomar consciência de si mesma e a entrar em diálogo de salvação com o mundo contemporâneo. Menos ambiciosas, mais limitadas no seu horizonte, se apresentavam as Encíclicas iniciais dos primeiros Papas do século passado. Pio X (1903-1914) publicou a sua E supremi, “sobre o cargo de Soberano Pontífice”, a menos de dois meses da eleição. Os mesmos sessenta dias bastaram a Bento XV (1914-1922) para divulgar o seu “programa de pontificado” na A Beatissimi Apostolorum Principis, com o empenho a favor da paz e o apelo a que os católicos das nações combatentes pusessem de lado as ofensas recíprocas. Idêntica preocupação com a paz, que deve assentar em Cristo, ressalta da primeira Encíclica de Pio XI (1922-1939), Ubi arcano Dei consilio”, “sobre a paz de Cristo no Reino de Cristo”, divulgada no Natal de 1922, a dez meses da eleição. É “sobre o ofício do pontificado” que Pio XII (1939-1958) redige a primeira Encíclica, Summi pontificatus, publicada no sétimo mês do Papa Pacelli. Quarenta anos mais tarde, em seis meses apenas o Papa Wojtyla prepara a sua Redemptoris Hominis (4/3/1979), centrada em Cristo, “centro do cosmos e da história” e indicando o homem como “primeiro caminho da Igreja”. Será o primeiro painel de um políptico que incluirá a Dives in Misericórdia (!980), sobre Deus Pai revelado por Jesus como “rico em misericórdia”, a Dominum et vivificantem (1986), “sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo”, e até mesmo a Redemptoris Mater (1987), “sobre a bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja em caminho”. Pacheco Gonçalves


Bento XVI