Relatório sobre o envolvimento de padres e diáconos veio revelar o «Fumo de Satanás», dizem os líderes católicos
Mais de 4.000 padres norte-americanos foram considerados culpados de abusos sexuais a menores entre 1950 e 2002, segundo um relatório da Conferência episcopal dos Estados Unidos, divulgado na íntegra esta sexta-feira.
O relatório sobre o envolvimento de padres e diáconos em casos de pedofilia refere-se ao período entre 1960 e 1984 e foi elaborado pelo Instituto de Criminalística John Jay College, de Nova Iorque. A investigação concluiu que, nos últimos 50 anos, 4392 padres e diáconos foram acusados da prática de pedofilia, número que corresponde a cerca de 4% do clero dos EUA.
O relatório apresentado pela Conferência Episcopal refere que, nas 195 dioceses, houve 10667 queixas, mas destas o tribunal apenas prosseguiu com 6700 casos. Três quartos destes abusos ocorreram entre 1960 e 1984, com os anos 70 a serem os mais negros.
Segundo o mesmo relatório, os custos destes escândalos atingem os 573 milhões de Dólares, aos quais é preciso ainda acrescentar 85 milhões de indemnização já entregue às vítimas.
A publicação deste relatório insere-se na forte campanha da Igreja Católica do país contra a pedofilia, de modo a recuperar a confiança dos norte-americanos.
Em Janeiro tinha sido publicado o “relatório Gavin”, um estudo pormenorizado sobre a maneira como as 195 dioceses e eparquias dos EUA têm aplicado a nova política de “tolerância zero” para casos de pedofilia. Os números mostraram que, no final do ano de 2003, quase 90% das dioceses católicas dos EUA estavam a cumprir a política nacional para proteger as crianças e lidar com casos de abusos sexual de menores, cometidos por parte de membros do clero.
«O FUMO DE SATANÁS»
No mesmo dia em que o relatório do John Jay College foi divulgado, a conferência episcopal norte-americana apresentava o seu próprio estudo sobre as causas que estiveram na origem destes escândalos de abuso sexual.
De acordo com a National Review Board do episcopado dos EUA, “os pecados dos clérigos e a inacção dos bispos” terão deixado entrar na Igreja Católica aquilo que classifica de “Fumo de Satanás”.
“Como resultados da crise de abusos sexuais de menores, a própria Igreja foi profundamente ferida, a sua capacidade de falar clara e credivelmente foi seriamente afectada”, referem os bispos do país.
O National Review Board foi criado em 2002 para monitorizar os esforços da Igreja nos EUA, tendo em vista colocar um ponto final na grave crise provocada pelos casos de abuso sexual de menores, por parte dos clérigos.
O quadro que resulta destes dois novos relatórios sobre a extensão e as causas da crise é “um dos que quebra a fé das pessoas”, disse o presidente do episcopado norte-americano, D. Wilton Gregory.
“A terrível história que aqui fica gravada passou, de facto, à história. Embora não precisássemos destes dados para saber que muitos tinham sido feridos, os dados servem para perceber a urgência de agir o mais completamente possível para chegar às vítimas”, acrescentou.