Os direitos humanos em países menos desenvolvidos são muitas vezes abordados pelo cinema, mas raramente com a profundidade e equilíbrio que se encontra em «O Fiel Jardineiro». Com a acção no Quénia - e também, em breves passagens, no Sudão – dá-nos uma imagem muito viva da miséria que afecta os seus povos e como há quem da mesma se aproveite para obter lucros avultados.
No caso presente narra-se o desenvolvimento de um projecto médico, em que uma empresa farmacêutica britânica estuda os efeitos de um novo medicamento utilizando-o em doentes com SIDA, que ignoram que se trata de uma fase experimental que, em muitos dos casos, conduz à morte.
O argumento centra-se na vida – Justin e Tessa Quayle - ele diplomata, ela activista dos direitos humanos, levando esta última o seu trabalho até ao limite, redigindo um violento relatório que envia às autoridades britânicas. O relatório é abafado e Tessa assassinada, o que leva o marido a pegar no tema no ponto em que a investigação ficou. Mesmo pagando com a vida a sua determinação leva ao desmantelar de uma perigosa rede económica e à denúncia dos seus mentores.
O tema é suportado por excelentes imagens, ricas em significado e cor, tanto no retrato das populações como de alguns elementos da Natureza, em que os bandos de aves tomam uma parte significativa.
O filme segue uma linha narrativa muito bem definida, que abandona por vezes a ordem cronológica sem que por isso se perca o sentido e o contexto. Ralph Fiennes e Rachel Weisz preenchem os principais papéis, com um trabalho correcto mas não muito exigente, valendo bem mais o tema e o ambiente que o desempenho particular de qualquer dos actores. Mais forte é a presença de Fernando Meireles, realizador brasileiro que mostrara já as suas preocupações sociais em «A Cidade de Deus». Tem agora oportunidade de abordar outro tema com a mesma força e envolvendo uma região bem mais vasta.