Vaticano

Edificar na Justiça a cidade dos homens

Elias Couto
...

Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração – MARÇO

Que os governos de todas as Nações, nas políticas e programas de desenvolvimento, tenham sempre em conta os pobres, marginalizados e oprimidos. 1. Edificar a cidade dos homens. Fevereiro foi mês de campanha eleitoral e eleições, em Portugal. Os partidos políticos dedicaram grande atenção, nos seus programas e nas acções de campanha, às injustiças sociais e todos prometeram, cada um a seu modo, profundo empenho em minorar, quando não eliminar, tais injustiças. Agora, é tempo de começar a exigir que dêem sinais concretos de não ter esquecido as promessas. Por aqui passa o recto exercício da política – ou seja, da tarefa de edificar a cidade dos homens, segundo o princípio do bem comum. Este supõe o reconhecimento da igual dignidade de todos os seres humanos e do direito de todos a disporem do essencial para uma vida humanamente digna – e também a obrigação de partilha e redistribuição de bens, segundo leis adequadas, por parte daqueles que, num dado momento, possuem mais. Esta obrigação, antes de ser um imperativo legal, é uma exigência ética – uma lei da consciência bem formada – da qual depende a realização da justiça na cidade dos homens. 2. Herança da tradição judaico-cristã. Para a tradição judaico-cristã, a igual dignidade de todos os seres humanos é uma verdade revelada por Deus – «criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27) e abençoou-os. É difícil conceber uma afirmação mais radical da dignidade humana – pode, sem dúvida, conceber-se uma afirmação da dignidade humana não fundada na Revelação; no entanto, dificilmente terá a mesma exigência, sobretudo se parte do princípio de que o homem não é mais do que um primata, mais complexo, relativamente aos outros primatas, mas qualitativamente igual a eles... De facto, foi o lento fermentar do Evangelho de Jesus Cristo e, mais amplamente, da tradição bíblica, que levedou a massa das culturas pagãs da antiguidade, fazendo-as assomar, lentamente, à afirmação desta verdade. Não fora o enraizamento do cristianismo nestas culturas e dificilmente se teria mantido a brilhar, mesmo nos momentos de maior escuridão, esta exigência própria da Revelação. Não fora a acção persistente desta tradição no contexto do mundo ocidental e dificilmente os saberes e os poderes deste mundo se teriam aberto à «evidência» destes princípios – por muito que isso custe ao laicismo totalitário do presente. 3. Destino universal dos bens. A afirmação da igual dignidade de todos os seres humanos e a exigência de edificar a cidade dos homens segundo o princípio do bem comum exprimiram-se, na tradição cristã, pela afirmação do destino universal dos bens da terra – destino que não pode ser anulado pelo direito à propriedade privada. Nas circunstâncias actuais, este destino universal dos bens deve ser concretizado, em primeiro lugar, pelos Estados, através de políticas de desenvolvimento económico que tenham sempre em consideração os mais pobres. Não basta, de facto, desenvolver teorias económicas correctas. É preciso, também, olhar às suas consequências – as quais, para o pior, recaem sempre primeiro sobre os mais pobres; e, para o melhor, atingem sempre primeiro os mais ricos. Supondo que os governantes assumem a exigência do bem comum, é desejável que, na busca do desenvolvimento económico, o Estado: respeite a liberdade dos cidadãos para investirem e criarem riqueza, dando curso à sua criatividade e energia empreendedora; garanta uma justa distribuição da riqueza produzida, pois esta é fruto do esforço de todos; dinamize a criação de organizações (do Estado ou da sociedade civil) capazes de acorrer às situações de grave carência, para que ninguém se encontre desprovido do essencial para a vida quotidiana... Podemos esperar isto daqueles que nos governam? Elias Couto


João Paulo II