Vaticano

«Estive na prisão e fostes ver-me»

Elias Couto
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Que os que estão nas prisões, especialmente os jovens, recebam o apoio necessário por parte da sociedade, a fim de conseguirem dar sentido às suas vidas. Intenção Geral do Santo Padre para o mês de Julho

1. Um meio, não um fim... Mesmo nas sociedades mais desenvolvidas económica e culturalmente, ainda não foi possível abolir o crime, nas suas variadas formas – nem é previsível que alguma vez o seja. As sociedades sentem, por isso, necessidade de se defender, e aos cidadãos, individualmente, contra aqueles que, rejeitando as regras de uma convivência pacífica e justa, optam pelo crime para responder a problemas pontuais ou como um modo de vida. A prisão é, desde tempos remotos, um dos meios mais comuns e persistentes usados pelas sociedades organizadas com o fim de exercer este direito à defesa individual e colectiva contra os que violam as leis, retirando-lhes, de modo permanente ou limitado, o direito à livre convivência em sociedade. 2. Situação desumanizante. A liberdade representa a situação comum a que aspiram os seres humanos e a que mais os humaniza. Privar alguém da liberdade e, logo, da capacidade de se autodeterminar, é, sem dúvida, um rude castigo, com grande potencial de desumanização. Mas o encarceramento traz consigo outras penas, associadas à falta de liberdade: a privação da intimidade; a sujeição a regras impostas, vividas dentro de um espaço limitado; a tensão associada à convivência forçada com outras pessoas; em muitos casos, a falta de condições materiais das mesmas prisões; a existência de grupos organizados dentro das prisões, que se impõem aos mais frágeis... Tudo isto configura a prisão como um espaço tendencialmente despersonalizado e desumanizante, onde os presos facilmente se tornam números e coisas. 3. Procurar a integração na sociedade. Cumprido o seu objectivo primário – punir alguém pela ofensa cometida contra a sociedade –, é hoje dado como adquirido que a prisão deve contribuir, também, para a recuperação social do preso, ou seja, deve ajudá-lo a preparar-se para, terminada a pena, se integrar de modo válido na sociedade, da qual nunca deixou de fazer parte. Este objectivo, deve dizer-se, é dos mais difíceis, pois as prisões, por confinarem num mesmo espaço pessoas com passados muito diferentes, facilmente se tornam escolas do crime, mais do que espaços de integração pacífica na sociedade. Não deve, apesar disso, nenhum sistema prisional próprio de sociedades desenvolvidas desistir desse objectivo integrador – pois tal objectivo ajuda-o a manter-se mais humanizado e, logo, mais humanizador. 4. «Estive na prisão...». Falando do julgamento final e das obras que hão-de contribuir para a salvação dos discípulos, Jesus inclui entre estas a visita aos presos: «... estive na prisão e fostes ter comigo» (cfr. Mateus 25, 36). E, interrogado sobre quando Lhe tinham feito tal coisa, afirma: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (25, 40). As ditas «obras de misericórdia» podem, é certo, ser entendidas simbolicamente, pois implicam todas as dimensões da existência humana. É certo, mas... não deixa de ser significativo que, entre tantos exemplos possíveis, Jesus tenha escolhido os que escolheu; e, entre eles, este de «visitar os presos». Importa, por isso, dar-lhe atenção. No tempo de Jesus, as condições dos presos eram certamente bem mais deploráveis do que hoje, na maior parte dos casos – daí a urgência de os visitar, até para lhes levar alimento e para não ficarem esquecidos, sem julgamento e completamente à mercê dos seus carcereiros. Durante séculos, perduraram as condições degradantes nas prisões – e a exigência da visita aos presos, levando-lhes auxílio material e apoio espiritual, manteve-se, como princípio de humanidade e de humanização, não apenas dos presos mas também daqueles que os visitavam. Hoje, quando as condições materiais nas prisões são bem melhores e o modo como os presos são tratados é bem mais vigiado, pode parecer que tal exigência vai deixando de fazer sentido. Mas não é, de todo, o caso. Na verdade, mantém-se e, em alguns casos, até se torna mais urgente, sobretudo olhando à quantidade de jovens que, pelos motivos mais diversos, acabam na prisão, cumprindo penas mais ou menos longas. Importa, pois, manter e reforçar o voluntariado cristão nas prisões, como modo excelente de apostolado – mesmo se raramente surge a oportunidade para falar de Cristo. Afinal, voltando às palavras do Senhor, Ele já lá está, na pessoa de cada um dos mais pequeninos que ali se encontram – e o que Ele espera é a companhia e o auxílio dos seus irmãos.


Bento XVI