A relação entre o homem e as máquinas é o tema central da oitava edição do Festival de Cinema Espiritual “Terceiro Milénio”, a decorrer em Roma. O festival prolonga-se até 19 de Dezembro, integrando um congresso apoiado pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais e pelo Conselho Pontifício da Cultura.
Entre os filmes a exibir no Festival “Tertio Millennio”, organizado pela “Revista do Cinematógrafo”, contam-se as primeiras imagens de “Robôs”, o aguardado filme de animação produzido pela “20th Century Fox”, dirigido pelo vencedor do Óscar, Chris Wedge, director de “Balloon guy” (1987), “Bunny” (1988) e “Era do Gelo” (2002).
Na apresentação à imprensa, o arcebispo John P. Foley, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, afirmou que «o cinema sente-se
atraído por este tema e cria cenários futuristas, nos quais se notam, com frequência, possíveis consequências prejudiciais para a pessoa humana».
«Será ciência ficção, sim, mas esse futuro está já aqui, há anos, antes que nos déssemos conta, a hibridação começou no momento em que o homem se serviu de um meio para chegar até onde sua humanidade não lhe permitia chegar», observou.
«Certamente, a evolução da tecnologia permitiu uma revolução que mudou o nosso modo de viver, e o mudará mais, com inegáveis vantagens, mas também com aspectos perigosos», advertiu o responsável do Vaticano pelos meios de comunicação.
O prelado americano sintetizou a questão proposta na iniciativa com esta pergunta: «Trata-se de humanizar a máquina ou de transformar o homem em algo desumano?».
Na sua intervenção, o cardeal Paul Poupard, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, afirmou que «a máquina parece a negação do homem, e a robótica, a anulação da dimensão espiritual».
Mas na realidade, constatou, «o homem de hoje não pode prescindir de tudo o que é fruto de sua inteligência e de sua criatividade, da arte e da técnica, da engenharia e da literatura, da razão e do artifício».
«Deus deu ao homem a inteligência, que o permitiu projectar máquinas cada vez mais sofisticadas e o deixou livre para fazer suas opções», sublinhou o purpurado francês, mas «somos nós que criamos nossa realidade tecnológica».
«Dissemos muitas vezes que o cinema é um grande instrumento para narrar histórias, graças ao poder da imagem; e o empenho de muitos directores pode ajudar-nos a confrontar-nos com a evolução de uma nova dimensão na qual a inteligência humana se une à inteligência artificial», sublinhou o cardeal.
«Não podemos esquecer que o futuro da humanidade ficará plasmado também pela nossa capacidade de amar, ter sentimentos, de nossa necessidade de espiritualidade. O homem continuará a procurar-se a si mesmo, aos demais, a Deus. A identidade e a consciência continuarão a ser qualidades humanas insubstituíveis», concluiu.