Guia para perceber o Conclave Agência Ecclesia 15 de Abril de 2005, às 19:13 ... Pessoas, lugares e palavras da eleição do Papa A eleição de um Papa obedece a rituais muito simples e precisos, cheios de uma solenidade muito própria pelo gesto e pelo peso das decisões tomadas pelo Conclave. O próximo inicia-se a 18 de Abril, com os Cardeais a tomarem Deus e os Evangelhos como sua testemunha num juramento de “segredo absoluto†sobre todos os procedimentos que ali irão ter lugar. Apenas dois dos Cardeais Eleitores foram criados por Paulo VI e participaram em anteriores Conclaves: o Cardeal alemão Joseph Ratzinger e o Cardeal norte-americano William W. Baum. A inexperiência não servirá como entrave ao processo, previsto até ao mÃnimo pormenor na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, assinada por João Paulo II em 1996. Os eleitores Entram em Conclave para eleger o Papa apenas os Cardeais que não tenham já cumprido 80 anos de idade. De qualquer modo, o número máximo de Cardeais eleitores é de 120, fixado por Paulo VI e confirmado por João Paulo II. Actualmente há 117 Cardeais eleitores e apenas dois não participarão no Conclave – o Cardeal filipino Sin e o mexicano Suárez Rivera -, por motivo de doença. A legislação da Igreja promove, de facto, a participação de todos: o Conclave só se pode iniciar pelo menos 15 dias depois da morte do Papa. No Conclave estarão representados os 5 Continentes: Europa – 58 Cardeais eleitores; América Latina – 20; América do Norte – 14; Ãfrica – 11; Ãsia – 10; Oceânia – 2. O paÃs com mais Cardeais eleitores é a Itália (20), seguido dos EUA (11); Alemanha e Espanha (6 cada); França (5); Brasil (4). Se um Cardeal tivesse recusado entrar no Conclave, não poderia ser posteriormente admitido no decorrer nos trabalhos. O mesmo não acontece se um Cardeal adoecer durante o processo da eleição do novo Papa. Pessoas no Conclave Além dos Cardeais eleitores, está prevista no Conclave a presença de outros elementos, “para acudirem à s exigências pessoais e de serviço, conexas com a realização da eleiçãoâ€: o secretário do colégio cardinalÃcio, que desempenha as funções de secretário da assembleia eleitoral; o mestre das celebrações litúrgicas pontifÃcias, com dois cerimoniários e dois religiosos adscritos à sacristia pontifÃcia; um eclesiástico escolhido pelo Cardeal Decano, para lhe servir de assistente; alguns religiosos de diversas lÃnguas para as confissões, bem como dois médicos e enfermeiros para eventuais emergências; as pessoas adscritas aos serviços técnicos, de alimentação e de limpeza; os condutores que transportam os eleitores entre a “Domus Sancta Marthae†e o Palácio Apostólico; os sacerdotes admitidos como assistentes de alguns Cardeais eleitores. Todas elas “devidamente advertidas sobre o significado e a extensão do juramento a prestar, antes do inÃcio das operações para a eleição†prestaram e subscreveram o juramento de segredo sobre tudo o que rodear o processo de eleição do novo Papa. Lugares do Conclave João Paulo II decidiu que os Cardeais ficassem alojados na denominada Casa de Santa Marta, situada no Vaticano, junto à BasÃlica de São Pedro. Pela primeira vez na história, os lugares do Conclave estendem-se a todo o espaço do Vaticano. Os Cardeais eleitores continuam a estar submetidos à interdição de qualquer contacto com o exterior, mas não ficarão encerrados num único local. Com as novas normas, os Cardeais ocupam vários sÃtios consoante as suas actividades: o alojamento é na Casa de Santa Marta, as celebrações litúrgicas na Capela de Santa Marta - e, eventualmente noutras capelas -, e a eleição na Capela Sixtina. Os lugares do Conclave serão fechados por dentro (responsabilidade do Cardeal Camerlengo, D. Eduardo MartÃnez Somalo) e por fora (responsabilidade do substituo da Secretaria de Estado, D. Leonardo Sandri). Desde as primeiras assembleias cristãs romanas aos Cardeais, em 1179, a eleição de um novo Papa aconteceu quase sempre em Roma e, desde 1492, na Capela Sixtina. Nem todos os Conclaves, contudo, tiveram lugar no Vaticano: cinco aconteceram no Quirinal, actual palácio da presidência da República Italiana; 16 decorreram noutras cidades italianas e sete em França, no perÃodo de Avinhão. InÃcio do Conclave Na manhã de segunda-feira, 18 de Abril, está previsto que todos os Cardeais eleitores se encontrem na BasÃlica de São Pedro para celebrar a Missa votiva pro eligendo Romano Pontifice (para a eleição do Papa), sob a presidência do Decano do Colégio CardinalÃcio, D. Joseph Ratzinger. A celebração é aberta a todos os que queiram participar À tarde, os Cardeais eleitores reúnem-se na Capela Paulina do Palácio Apostólico, de onde se dirigem para a Capela Sixtina, em procissão solene, entoando o canto Veni Creator, para pedir a assistência do EspÃrito Santo. A Capela Sixtina terá sido anteriormente objecto de apurados controlos para apurar da eventual presença de meios audiovisuais destinados a espiar do exterior o que acontecer no processo de eleição. Os Cardeais eleitores prestam, em primeiro lugar, o juramento de segredo sobre tudo o que diz respeito à eleição do Papa e comprometem-se a desempenhar fielmente o munus Petrinum de Pastor da Igreja universal em caso de eleição. Terminado o juramento, todas as pessoas estranhas à eleição saem após a ordem “Extra Omnes†(todos fora). Permanecem apenas o mestre das celebrações litúrgicas e o eclesiástico escolhido para a segunda meditação, neste caso o Cardeal jesuÃta Tomas Spidlik (Cardeal não-eleitor, por ter excedido os 80 anos de idade). Estes momentos de reflexão estão previstos na Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis†(UDG, n. 13) e são outra das novidades da Sé Vacante, introduzidas por João Paulo II: a última meditação diz respeito à escolha “iluminada†do novo PontÃfice. Após a meditação saem da Capela o mestre das celebrações litúrgicas e o Cardeal Spidlik. Os Cardeais eleitores encontram-se a sós, na Capela Sixtina, com os seus pares. Todos os meios de comunicação com o exterior são proibidos. Nesta altura, o Cardeal Decano verifica se não há obstáculos e procede-se à primeira votação. Os Conclaves do século XX tiveram uma duração sempre inferior a cinco dias e 14 votações. Votação Pela primeira vez na história da Igreja está prevista apenas uma modalidade de votação, “per scrutinioâ€, abolindo modos de eleição anteriormente existentes (por inspiração e por compromisso). Para a eleição é requerida uma maioria de dois terços (neste caso, 77 votos). No primeiro dia haverá apenas uma votação e, se o Papa não for eleito, terão lugar nos dias subsequentes duas eleições de manhã e outra duas de tarde. Se após três dias não houver consenso, há um dia de interrupção para oração, colóquio entre os eleitores e reflexão espiritual. Prossegue-se, depois, para outros sete escrutÃnios antes de outra pausa e assim sucessivamente. Se as votações não tiverem êxito, após um perÃodo máximo de 9 dias de escrutÃnios e “pausas de oração e livre colóquioâ€, os Cardeais eleitores serão convidados pelo Camerlengo a darem a sua opinião sobre o modo de proceder. O documento de João Paulo II abre a hipótese de a eleição ser feita “ou com a maioria absoluta dos sufrágios ou votando somente os dois nomes que, no escrutÃnio imediatamente anterior, obtiveram a maior parte dos votos, exigindo-se, também nesta segunda hipótese, somente a maioria absoluta.†Boletins A votação acontece com o preenchimento de um boletim rectangular, que apenas traz impressa a menção "Eligo in Summum Pontificem" (elejo como Sumo PontÃfice) na parte superior. Na metade inferior está o espaço para escrever o nome do eleito. Voto O boletim é dobrado em dois e é levado de forma visÃvel ao altar, onde está colocada uma urna, onde os Cardeais pronunciam o juramento: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há-de julgar, que o meu voto é dado à quele que, segundo Deus, julgo deve ser eleitoâ€. O juramento é feito apenas no primeiro escrutÃnio. O Cardeal deposita o seu voto na urna, tapada pelo prato no qual o boletim tinha sido colocado. Recolher e queimar Os três escrutinadores sorteados no inÃcio do processo abrem cada um dos boletins, lendo o seu conteúdo em voz alta. Os votos são perfurados onde está escrita a palavra “eligo†e presos num fio. No final da recontagem são ligados com um nó e colocados num recipiente e posteriormente queimadas. Se houver lugar a uma segunda votação, contudo, os votos dos dois escrutÃnios e “os escritos de qualquer espécie relacionados com o resultado de cada escrutÃnio†são queimados em conjunto. Fumata Se o fumo que sai da chaminé da Capela Sixtina for negro, significa que não houve acordo entre os Cardeais; se for branco, que foi escolhido o novo Papa O Vaticano anunciou, entretanto, que a eleição do novo Papa vai ser anunciada através do tradicional fumo branco, acompanhado pelo toque dos sinos, para evitar confusões quanto à cor do fumo. Eleição Uma vez ocorrida a eleição, apenas resta ao novo eleito responder a duas questões do Cardeal Decano: ''Acceptasne eletionem de te canonice factam in Summum Pontificem?†(aceitas a tua eleição, canonicamente feita, para Sumo PontÃfice?) e ''Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?), naquele que é o último acto formal do Conclave. O mestre das cerimónias liturgicas é chamado, desempenhando funções de notário, e redige um documento de aceitação. Dois cerimoniários entram e servem de testemunhas. Após a escolha do nome, um a um os Cardeais prestam homenagem e apresentam a sua obediência ao novo Papa. O anúncio é feito, em seguida, pelo Cardeal protodiácono (D. Jorge Medina Estévez) aos fiéis: " Annuntio vobis gaudium magnum Habemus papam". Mudança de nome No inÃcio do Cristianismo o eleito usava o seu nome – Lino, Clemente, Telesfóro, Eleutério, Aniceto, conforme a procedência dos Papas. A partir de 532 a tradição de mudar o nome instalou-se: o eleito chamava-se Mercúrio, nome de uma divindade pagã, e adoptou o nome de um dos apóstolos, passando a chamar-se João II. Este uso consolidou-se e os Papas começaram a escolher nomes de Apóstolos, de mártires ou outros Papas, muitas vezes para invocar algumas das suas caracterÃsticas. Nenhum, contudo, voltou a utilizar o nome de Pedro, o primeiro Papa, porque este não foi eleito por outros homens – em 983 o romano Pedro, eleito para o pontificado, mudou o nome para João e o mesmo aconteceu com o Papa português, João XXI. Fim do Conclave O Conclave termina oficialmente com o assentimento dado pelo Papa eleito à sua eleição. Curiosidades Até à eleição de João XXIII (1958) os votos dos cardeais eram queimados após cada votação. Quando misturados com a palha húmida, o fumo da chaminé da Capela Sixtina indicava ao povo da Praça de São Pedro, que o Papa ainda não estava eleito. Era o fumo branco que indicava o fim do Conclave e a eleição do Papa. Hoje em dia este processo faz-se pela adição de determinados produtos quÃmicos aos papéis da votação. É histórico o Conclave no Palácio dos Papas em Viterbo, após a morte do Papa Clemente IV. Foi o Conclave mais longo da história da Igreja e teve a duração de 33 meses, de 29 de Novembro de 1268 a 1 de Setembro de 1271, porque os Cardeais não chegavam a um acordo para eleger o novo Papa. O Governador da cidade, encarregado de alimentar os Cardeais, decidiu, por conselho de São Boaventura, encerrar os Cardeais no palácio. Fechou a porta da sala de reuniões, ficou com a chave, destelhou o local e cortou a remessa de mantimentos. Imediatamente chegaram a um consenso, elegendo o Papa Gregório X (1271-1276) que, para evitar a repetição do acontecimento, estabeleceu através do ConcÃlio de Lyon (1274), normas que regulamentam, basicamente, os Conclaves até hoje. Os Papas seus sucessores acrescentaram algumas modificações a essa primeira regulamentação. Gregório XV, através das constituições de 1621 e 1622, e Pio XII, através da Constituição “Vacantis Apostolicae Sedis†de 1945, tornaram mais precisas as leis do Conclave. Após as leis especiais da Constituição Apostólica de Paulo VI “Romano Pontifici Eligendo†de 1 de Outubro de 1975, a eleição do Papa é hoje regulada pela Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis†de João Paulo II. Octávio Carmo Conclave Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...