Haiti: Um povo destroçado mas que não caiu na sua fé
Superior Geral dos Scalabrinianos fala da sua experiência junto das comunidades, na capital do paÃs
O Haiti está a lutar contra a epidemia de cólera que já causou mais de mil mortos em todo o país, situação testemunhada ao vivo pelo padre Sérgio Geremia, Superior Geral da Congregação dos Sclabrinianos, que visitou recentemente o Haiti.
Frente à catedral de Port-au-Prince, que tem como padroeira Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, há uma cruz com cerca de cinco metros de altura, com Cristo crucificado.
"Toda a estrutura está caída por terra, apenas o símbolo permanece de pé. Em frente a ela, um grupo de crianças, com algumas senhoras, reza em voz alta”: para Frei Sérgio Olivo Geremia esta recordação, recolhida durante a sua missão junto das populações, fica como um tesouro e um exemplo de vida.
“As catástrofes naturais e a doença trouxeram a morte e a destruição ao povo haitiano, mas não lhe retiraram a sua fé nem lhe apagaram a chama da esperança” sublinha o Superior Geral da Congregação dos Missionários de S. Carlos (Scalabrinianos), que neste mês de Novembro testemunhou em primeira mão a situação dramática em que (sobre)vive aquele povo.
Um surto de cólera, detectado há quatro semanas atrás, já fez mais de mil e cem mortos, de acordo com os dados avançados esta Quarta-feira, dia 17 de Novembro, pelo Ministério da Saúde haitiano.
Segundo a mesma fonte, veiculada pela agência AFP, o número de internamentos é neste momento superior a 18 mil.
Há cerca de duas semanas, o território foi ainda fustigado por um violento furacão que provocou, para além de estragos materiais, fez cerca de 20 mortos e 30 feridos.
A este quadro temos de juntar o facto do país ainda estar a viver, profundamente, os efeitos do grave terramoto de Janeiro último, que destruiu grande parte das estruturas e ceifou a vida de 220 mil pessoas.
Toda esta contabilidade, brutal, leva o padre Sérgio Geremia a sublinhar: “se existe um país que precisa hoje da solidariedade humanitária e cristã, é o Haiti”.
Quase um ano depois do sismo, “a maioria das casas continuam arrasadas, as escolas e igrejas permanecem destruídas e faltam realizar muitos trabalhos de limpeza de escombros” relata o Superior-geral scalabriniano.
A situação que se vive ainda é de choque: não se consegue organizar um programa de reconstrução das casas, de realojamento, faltam condições básicas para um recomeço de vida.
“Os que perderam as suas casas moram em tendas, todos os espaços verdes, praças, jardins públicos da capital do Haiti estão ocupados por habitações provisórias” acrescenta o sacerdote, para quem o enorme esforço levado a cabo pelas Nações Unidas, por organizações humanitárias e pelas Igrejas em todo o mundo, na recolha de fundos, só terá resultados visíveis quando o país alcançar uma boa estabilidade política.
“Neste momento, ninguém assume, ninguém coordena, está tudo parado à espera” afirma o padre Sérgio Geremia, apontando a eleições para o novo governo haitiano, marcadas para dia 28 de Novembro, como um momento propício para que “se lance uma campanha de reconstrução do país”.
Neste momento, o único projecto que está previsto é a realização de uma sondagem do terreno, para ver quais são os pontos sobre os quais se podem construir novas estruturas, de forma segura.
Presente no Haiti desde 1996, a Congregação dos Missionários de S. Carlos está neste momento a desenvolver vários projectos de apoio ao país, com os fundos que arrecadou em muitas paróquias e províncias do mundo inteiro.
Um desses planos diz respeito à assistência humana, social e religiosa que está a ser prestada a cerca de 6 mil famílias (30 mil pessoas) que se encontram a viver neste momento em tendas, num terreno próximo do Seminário que os scalabrinianos construíram no país.
“Neste caso, o objectivo é construir uma paróquia, e para tal vão ser construídas 100 casas, para que seja um modelo para outras organizações que queiram colaborar, e um centro juvenil” explica o Frei Sérgio Geremias.
Quanto a outras obras, destaque para a prestação de cuidados de saúde, através de um pequeno serviço ambulatório que atende cerca de 120 pessoas por dia; pelo investimento na educação, junto dos jovens e crianças, sobretudo dos órfãos; e para o reforço da atenção dada às vocações – o Seminário scalabriniano alberga neste momento perto de 300 seminaristas.
Outro projecto, que já foi proposto ao bispo auxiliar do Haiti, será coordenar a Pastoral da Mobilidade Humana de todo o país – inclusive a Pastoral do Mar - num altura em que, dia após dia, se assiste a um êxodo das populações locais, para países como a República Dominicana ou os Estados Unidos.
Haiti