Vaticano

Herança de Mounier em discussão

Octávio Carmo
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Proposta para a abertura do processo de beatificação do pai do personalismo

O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, Cardeal Paul Poupard, afirmou que a herança de Emmanuel Mounier (1905-1950) é, ainda hoje, de uma “actualidade criativa”. Os 100 anos do nascimento do filósofo francês, pai do personalismo, foi celebrado com um congresso promovido pela Universidade Pontifícia Salesiana(UPS), em Roma, hoje concluído. Comentando a obra "Fogo do Cristianismo", o Cardeal Paul Poupard explica que "o medo do século XX, denunciado pelo filósofo, não é o do fim do mundo, mas sim o do fim de um mundo, diante do qual, com optimismo trágico, Mounier funda a sua confiança no homem, na sua fé em Deus". O Cardeal francês destacou as palavras do filósofo, segundo o qual "o Cristianismo oferece uma contribuição maior às obras mais exteriores dos homens, quando crê na intensidade espiritual mais do que quando se perde na táctica e nos planeamentos". Já o filósofo personalista Paul Ricoeur, considerado um dos pensadores contemporâneos mais influentes, afirmou que “as alternativas que se propõem à humanidade hoje em dia são a lógica do intercâmbio de dons ou a da guerra de todos contra todos”, considerando que só com a primeira se pode evitar a segunda. O Pe. Pascual Chávez, Reitor-Mor dos Salesianos e grande chanceler da UPS, referiu-se à figura de Emmanuel Mounier como “um corajoso pensador, robusto construtor da história, autêntico empresário do pensamento comprometido, que deu uma contribuição decisiva para repropor a relação entre fé e história”. O superior Salesiano sublinhou a coerência do filósofo francês, cujo “programa de dinamismo social e político se baseava em sua fidelidade ao dom baptismal”. Num contexto mundial caracterizado por motivos de angústia, como o terrorismo e as guerras, o Congresso “Pessoa e humanismo relacional: herança e desafios de Emmanuel Mounier” quis estudar as estratégias a favorecer para que o desenvolvimento esteja à medida do homem e respeite sua dignidade, segundo os seus organizadores. Beatificação Os 550 participantes do Congresso, provenientes de 99 países, assinaram uma “carta-proposta” na qual mostram a sua convicção de que “um eventual reconhecimento da heroicidade das virtudes de Mounier, por parte da Igreja, será um estímulo preciosos para o exercício de uma santidade laical”. Este documento pretende a introdução da causa de beatificação de Emmanuel Mounier, considerado “um paradigma cristão para todos os tempos” devido à sua espiritualidade “sólida, corajosa e evangélica”. O final dos trabalhos ficou ainda marcado por uma mensagem enviada pelos participantes a João Paulo II, na qual se apresenta Mounier como “um leigo que percorreu o Concílio, conjugando a fidelidade a Cristo, Senhor da história, com a história carregada de expectativas e dramas”. O personalismo de Mounier, defende-se na mensagem, “é de uma grande actualidade”, porque apresenta ainda sementes de futuro, para crentes ou não crentes, “chamados a uma mobilização das consciências descomprometidas para os confrontos da desordem estabelecida, pela causa do homem”.


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